preciso aprender a voar

São só idéias que partem para fora nessa pútrida tarde. Cheias de poucos dizeres, em poucas palavras, à beira da morte. Não existem muitas coisas, pelo menos não suficientes, que possam explicar o porquê. Na verdade, se você realmente procurar, mas não souber direito o que irá buscar, nunca se chega lá. Você pode se perguntar a cada segundo porque continuou vivo e, ainda sim, a resposta nunca virá. Ela nunca vem afinal. Ela nunca bate à porta e diz: "Oi, estou aqui amor, voltei". Não, pelo contrário, ela prefere se afastar. É bom que ela esteja afastada. 

Me pergunto o quão monstro ainda sou. Devo ser odiado, destruído e dizimado quantas vezes mais? Devo me tornar um pó? Devo me dispersar em pleno ar, sem nunca mais me reunir, nunca mais me encontrar? Meus pensamentos se tornam obtusos, a Universidade me envenena a cada minuto que passa. Vejo penso respiro ar que me falta pra sempre faltará porque virgulas ninguém precisa preciso respirar prendo a respiração. 

Procuro em mim mesmo algo pra começar a Capitalizar, algo por onde Começar, algum lugar, Um Caminho Escuro, talvez esteja escondido por trás das diversas memórias que você deixou em mim, talvez atrás dos livros, dos cafés e chás empilhados aqui, em algum lugar. Abro o portão, olá, ela me diz, olá, eu digo de volta, então, o que você veio fazer aqui? Veio me levar embora? Não, ainda não, o Inferno ainda não abriu suas portas. Oh, que belo ouvir isso de uma boca tão doce quanto a sua. Não há problema, você pode ouvir do próprio diabo e nunca acreditaria. Mas o que? beterrabas doces. Sim, você me ouviu, beterrabas doces. 

Você realmente está perdido, não sabe o que fazer, vive cada segundo como se tudo fosse desvanecer, como numa noite de um verão qualquer, que as danças pela rua acontecem. Mas não, não está na hora meu bem. Você pode desenhar meus olhos nas paredes o quanto quiser, você nunca os verá novamente como no dia em que o amei mais que tudo. O que eu quero dizer, é que tudo poderia ser diferente. Mas como? Como? Se você sempre mentirá, sempre mentiu e pra sempre será o eterno mentiroso que destruiu meu coração? Você não entende. É, verdade, talvez nunca irei entender, na verdade, não ligo pra quem você seja ou o que deixou de ser, não ligo pra quem você quer ou quis ser. Agora está acabado, vá embora meu caro amigo, não preciso mais de você. Mas a depressão, quando ela chegar? O que eu vou fazer? Se renda. Se renda como sempre fez, se entregue pra ela, como se entregou pra aquela que lhe pediu antes de mim, e lhe pediu apenas uma vez. Sempre soube quem eu era, eu sempre disse isso pra você, sou um monstro que tenta encontrar um lugar desesperadamente, pra chuva não mais alcançar. Mas você não me ouve, um monstro não sente a chuva, ele apenas acha que a chuva está lá, e fecha os olhos quando o sol finge chegar. 

Quem está fingindo afinal, meu caro amigo? Você ou eu? Quem é o monstro e quem é o cabeça de umbigo? Ainda vejo ela atrás das grades, eram grades cinzas em formato de cilindros grossos, eu me lembro, sempre que ia embora, olhava ela de longe, como se nunca quisesse ir e, na verdade, nunca queria. Ainda lembro dos olhos dela, ainda lembro de correr pela calçada para alcançá-la. De pular as barras, de me aventurar até ela, apenas para beijá-la. Me lembro que os beijos entre as grades eram doces, todos eram doces. Me lembro também que um dia existiram tantas grades que fizeram com que ela se fosse. 

Ainda lembro do seu rosto, lembro das verdades ditas entre os lençóis da cama, lembro da noite e do seu grito bem alto, enchendo o ar com aquele cheiro de sexo. Lembro que seus vizinhos começaram a reclamar, eram todos de um país distante, nós praticamente mandamos eles se danar. 

Os dias passam rápido agora. Sou apenas um conjunto flutuante de memórias. Não sei se voltarei a ser algum dia eu mesmo, ou mesmo se eu mesmo poderei algum dia ser alguém. Não sei se pararei de flutuar, sentarei em um dos cantos do meu quarto e sentirei a parede roçando no meu ombro com seu frio, e quando mastigar sentirei o sabor salgado da comida na minha língua. 

não sei. há muito disso agora. sei de muitas coisas que nunca saberei. sei de muitas coisas que nunca serei. uma delas é que eu nunca mais quero ser um mentiroso. pra isso acontecer, terei que abrir meu peito novamente. erros cometidos, se repetem, e nem esperam o sol nascente. 

são coisas demais afinal, desisto de capitalizar as letras iniciais das frases logo aqui no final. não se pede para alguém que fique para sempre. 

pede que não se vá, se não for inconveniente ficar.

me deixe agora, sem demora. só quero ficar só. 

me deixe sozinho, aqui no frio, é tudo que preciso, pra aprender a respirar.

me jogo agora, nesse abismo, preciso de um jeito ou de outro, aprender a voar.

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