Pico da Bandeira - Mochileiro #2




Certa vez, surgiu a oportunidade de observar o sol nascer acima das nuvens em cima de uma montanha, cuja qual meu avô - de quase 80 anos e muita saúde - me chamou para ir com uma galera. 

Não exatamente uma montanha, um pico, o pico da bandeira. Não pude deixar de chamar um dos meus grandes amigos, Henry.

Marcamos, combinamos, conversamos, e finalmente, em um dia frio e à noite,
com todos os equipamentos, roupas, lanternas e almas, nos encontramos no ponto que pegaríamos a van, e viajamos até a cidade mais próxima do Pico da Bandeira pelo lado de Minas Gerais.


A van corria à noite, e como eu estava sentado próximo à porta da van, o vento frio que entrava me acertava em cheio. Foi uma viagem por toda a noite.


Chegamos a cidade de Alto Caparaó com o sol nascendo, e procuramos pela pousada que havíamos combinado de ficar por telefone.

Era uma pousada aconchegante.
No primeiro andar ficavam as mesas e cadeiras, e também mesinhas de café e frutas, e no segundo, havia uma grande sacada com algumas redes, mas pelo frio da época de julho, não haviam muitas pessoas na pousada, o que deixava ela bem confortável.

Eu e o Henry ficamos conversando sobre vários assuntos, sobre a vida, o Universo e tudo o mais, até que decidimos que era melhor dormir, a noite seria longa, e a escalada seria difícil.

Dormimos à tarde toda, e fomos acordados às 17 horas, para começar a nos vestir para o frio absoluto.


Nos vestimos com 3 calças, 4 blusas, 3 meias, 2 luvas, 2 gorros, óculos e um par de tênis para escalada. Parecia que havíamos assaltado uma loja e tentávamos fugir escondendo as roupas.

Pegamos um jipe até a borda da montanha, até onde a estrada ia, onde se iniciava a subida.


Enquanto subíamos conversávamos e em alguns pontos, saía "fumaça" enquanto falávamos, devido ao frio, o gás carbônico que liberávamos era mais quente que o ar à nossa volta, causando um efeito incrível.

Começamos a subida junto ao guia, ainda havia sol no horizonte, mas muito pouco, ele estava se pondo.

A paisagem parecia a de um deserto no Chile. Vegetação rasteira, uma que nunca havia visto, lembrei dos velhos desenhos animados, me perguntei mentalmente se havia algum "coiote" por ali.


Andávamos em meio à cascalhos e hora ou outra subíamos rochas grandes.

Chegávamos ao topo de um morro e pensávamos que o Pico da Bandeira era no próximo morro. Então chegávamos no próximo, e ainda havia um próximo morro. 



Andamos muito e muito, até chegarmos à um ponto em que havia um grande terreno plano, a hora se aproximava de 5 horas da manhã, todos descansavam em barracas até terminarem a subida ao pico.

Havia uma casa velha, aonde tiramos algumas fotos. Por causa da escuridão, o flash incomodava bastante as pessoas, o que não possibilitou tirar tantas fotos.

A galera da van deitou toda em um canto, para que pudéssemos nos aquecer em meio aquele frio.


Comemos os chocolates que havíamos levado, recuperamos um pouco das enormes quantidades de calorias que gastamos, e tentamos dormir - não tentamos, adormecemos como pedras.

Acordei alguns minutos depois e tentei mover meus dedos. Não consegui.


Tentei novamente, meus dedos estavam gelados, pareciam totalmente congelados e imóveis, então perguntei ao Henry:
- Se os membros ficam muitos gelados, é capaz que sejam motivo de amputação?
- Sim, provavelmente - Ele disse.

Levantei rapidamente e comecei a dar pulos e pulos, para aquecer o corpo. Então percebi que meus dedos do pé também estavam no mesmo estado.
Continuei a tentar me aquecer, outras pessoas faziam o mesmo para se aquecer. Algumas haviam levado pula-corda, ilário.

Voltamos a andar. O guia nos levou por um caminho em que a subida era mais íngreme, requeria que as pernas fossem abertas mais para alcançar a próxima pedra.
Não havíamos visto muitos viajantes outras vezes na escalada até aquele ponto, mas agora, a reta final, parecia uma fila para comprar um iPad em São Paulo.
Alguns mais lentos ficavam para trás, mas era quase um vale estreito entre as pedras maiores, e não existia muitas chances de ultrapassagem.

Depois de me apressar, fui o primeiro à chegar lá em cima. Havia algumas poças de água, que estavam congeladas, dando um efeito de lago congelado interessante.
O termômetro que estava lá em cima, marcava -7 ºC, e meus dedos começaram a doer, de tanto frio.

Ultrapassei o guia que nos acompanhava, e várias outras pessoas que subiam arduamente pelas pedras. Cheguei ao topo primeiro que todos, existia ali uma sensação de solidão plena. Me senti como o último humano na Terra.


A visão era esplêndida, porém perigosa. Não se via após a borda das encostas, mas se via escuro, o que dava uma pequena idéia do quão fundo era.

Após alguns segundos, outras pessoas começaram a preencher o topo do Pico, e eu não estava mais sozinho, em meio à escuridão se assentavam para receber o nascimento do sol.

Henry havia finalmente chegado, e ficamos alguns segundos conversando sobre algumas coisas, até que observamos nossos relógios. O sol nasceria em poucos segundos.

Ficamos à espera... todos os rostos... todos os sons se calaram por não se sabe quanto tempo.

Um raio apenas, surgiu na imensidão do horizonte. Suspiros de um sentimento inexplicável surgiram na multidão. Mesmo com a luz, o calor ainda não chegara.
Depois, pesquisei na internet, demoram-se alguns segundos até que o calor chegue.
Mas quando o calor chegou, aqueceu o corpo e o coração de pessoas que estavam morrendo de frio.

As nuvens começaram a fugir do horizonte, e suas formas antes escondidas, revelaram-se um manto que guardava a escuridão na terra.

Então outros raios se juntaram ao primeiro, e milímetro a milímetro, não retirávamos os olhos do "deus" que nascia do horizonte.

Foi crescendo, e após alguns segundos, queimava no céu, iluminando as incríveis e vastas planícies que nos cercavam.

A vista era incrível, todos os sentimentos de felicidade passavam através de mim, toda a visão de quanto a vida é incrível.

A vida é incrível.

Nada se comparou aquele momento até hoje. Espero voltar lá, ou viajar muito mais vezes à outros lugares como aquele.


Aqui algumas fotos:

Comentários

  1. Uau!
    Por um momento me senti lá. Deve ter sido, realmente, incrível!
    O lugar é lindo!!

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