História Experimental: O que realmente importa


Sempre fez a diferença

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Às vezes, em dias como estes, de céu azul sobre azul, começo a divagar.
Eu me lembro de como é ser velho. Estar sentado no quintal de casa, sobre a grama.
Deitar num cobertor cinzento, tão velho quanto o dono e ficar admirando o céu.
É engraçado, quando se é mais velho e você deita, todo mundo acha que você vai morrer.
Respirar profundamente, sentir o cheiro doce das maçãs do pé de maçã que começa a dar frutos.
Maçãs doces que os dentes não permitem comer mais.

Então eu pego as velhas fotos dos meus grandes amores e fico me admirando lá, novo, estúpido e inconsequente.
Pensando no quanto a vida passou, o quanto tudo mudou. Pensando onde meus grandes amores estão.
Se estão vivas, ou se estão felizes.

Minha pele enrugada e marcada pelo tempo, com sulcos profundos e mole, solta do corpo, caída, acompanhando a gravidade.
Meus olhos sem óculos, mal enxergando o céu, mas olhando mesmo assim. Vendo borrões brancos, azuis, amarelos.
Minha boca com gosto de dentadura. Uma boca seca, com leves rachaduras por estar tantos segundos ao relento.

Minhas orelhas e nariz já estão grandes suficientes
pra ocuparem os próprios lados da cama e pra roubar o oxigênio da Terra, respectivamente.

Os dias finais passam depressa agora.
Parece que o tempo parou e agora, só me resta esperar o fim do mundo.

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