Monocromia

O quarto era uma ambiente pequeno. Podia-se observar que era útil, claro, era evidente devido às prateleiras posicionadas precisamente acima da mesa de estudo. As gavetas aproveitando cada espaço para armazenar objetos com suas devidas utilidades. A luz não ligava, mas não importava... Realmente não importava. Era uma noite tão fria quanto qualquer outra aquela. O som "tic tic tic" dos dedos dele batendo no teclado do computador eram incessantes. Tudo que havia era o zumbido, o barulho da televisão distante e os sons da rua. A rua. Ela devia estar lá fora em algum lugar agora. Vivendo sua vida, todos os dias. E era bom que estivesse. As histórias esquecem sempre de mencionar como ocorre depois que elas terminam. Mas, se não for incomodar muito, eu posso mencionar pra você.

Temos que "começar do começo".Bom, ao início o tempo passa efemeramente rápido. Cada beijo é mais fugaz que o anterior. Os sorrisos são todos profundamente baseados numa esperança de que naquele momento existe felicidade. No meio, as verdades começam a se repetir demais. Tudo se revela como uma grande encenação. É tão simples quanto. Tão belo quanto. Tão destrutivo quanto. Começam as perguntas: Como seria se tudo fosse diferente? E então chega o final. Tão dramático, tão instantâneo. Basta um olhar e o final está ali, parado, saudando você, como a um velho amigo. Bom, então chegamos ao ponto que queria demonstrar: depois do final. Depois do final só sobram as memórias. Uma a uma, você as caça e as consome, como uma criatura dominada pelos vícios e pelos hábitos que sua carne contém. Se sente os instantes se arrastando. Com o tempo, você já consumiu boa parte do que havia de bom. Então sobra apenas a podridão interna que todos têm. Você olha-se no espelho e percebe que tem algo de errado. Metade de si não está lá. Alguém pegou uma lâmina, deslizou um traço limpo pelo seu rosto, sem sangue, e removeu metade da sua cabeça. Dizem que todos somos incompletos, mas como pode o que é naturalmente incompleto se sentir completamente vazio?

A única razão pro quarto existir parecia uma: era o limbo. O lugar onde todas as memórias se reuniam e ficavam lá, fazendo aquele doce e terrível zumbido. Mesmo um ambiente pequeno, as paredes se afastavam e o zumbido aumentava sua intensidade como um monstro... nascem duas cabeças a cada cabeça cortada. Nascem duas novas dores. Sabe, ele sempre pensou que amaria pra sempre uma pessoa só, mas nunca foi realmente possível que isso acontecesse. Sabe porque? O mundo não é simplesmente feito de histórias de amor, contadas e recontadas como uma grande e bela fábula cheio de significados e sentidos no final. Acaba que o mundo não faz o menor sentido mesmo. Algumas coisas você pode medir, quantificar, mas perguntas como o que é mais real? Ou quem está mais certo: razão ou emoção? Ou mesmo, a realidade criada pelos meus sentimentos é tão real quanto a realidade criada pela minha razão e vice-versa?. Não. Não. Nunca são respondidas. Tudo é uma questão de interpretação. (in)felizmente(?). Talvez as advogadas gostem disso.

Ele nunca saberia o que dizer. A única coisa seria pedir perdão por ter ligado tão tarde. Causa nele uma total sensação de estranhamento. Não ter lugar pra onde ir, nem ar pra respirar...

Quando viver aqui ficou tão sufocante?

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