Onde Todas as Luzes tem Fim - São Paulo 03-09-2015

A madrugada chega, mais uma vez, em um lugar diferente, em uma respiração diferente.

Enquanto entrava no ônibus pensava em como seria a cidade quando chegasse. Estaria tão cinza e fria quanto no dia em que lá cheguei há tanto tempo atrás? Estaria cheia de olhares cruéis e persecutórios na minha direção? Enquanto nos aproximávamos, olhava o horizonte. O céu queimava na linha de pequenos morros amontoados. Via-se de longe um vermelho escuro e intenso que invadia o azul profundo do céu. Pensava ser o nascer do sol, mas era muito cedo para tal. Chegando mais perto, descobri o que era: a cidade e suas luzes. São Paulo iluminava tanto o horizonte que parecia um nascer do sol longínquo, avisando que vai começar.

Descemos da rodoviária, pegamos a linha de metrô. Estava frio quando descemos do ônibus e mais frio quando saímos na avenida Jabaquara. A pressa percorria onde olhávamos, os carros, as pessoas, mal notavam a existência uns dos outros. Até um pai, naturalmente brasileiro e paulista, carregando sua mochila de ir pro trabalho e a mochila do filho por cima da sua, ambas nas costas, olhava para o filho de olhos puxados e para sua esposa que o levava no colo. As mãos do pai estavam ocupadas, e as da mãe carregavam o filho, então o filho estendeu o seu braço e pressionou o botão verde que pedia passagem para o outro lado da avenida. O pai olhou admirado para o filho e sorriu, de olhos, boca e coração. Ele tinha orgulho do filho, era tanto amor que não pude olhar mais e voltei a ver as pessoas que andavam na rua, com pressa em seus afazeres.

Após algum tempo, o carro que se revelou do irmão Luciano do meu professor-orientador Franco do laboratório CADTEC na UFMG encostou e a janela foi abaixada. A voz do meu professor encheu o dia, a voz receptiva de um bom amigo. Entramos no carro, sorrimos e conversamos até chegarmos ao Sheraton / WTC Center. Quando chegamos, localizamos com um pouco de dificuldade o local do centro de convenções. Subimos até o quinto andar e então entramos na Autodesk University 2015. O evento era realmente imenso. Várias empresas e stands trabalhando com tecnologia de ponta em Engenharia.

Algumas das tecnologias mais interessantes englobavam todo ambiente de criação, simulação e demonstração: Desde o processo de criação de edifícios, a simulação de como eles se comportariam após construídos e a utilização do óculos RIFT para demonstrar o modelo através da realidade virtual. Em um ambiente cada vez mais competitivo, nota-se que a tendência absoluta é a completa transformação da engenharia e da computação em uma nova área que une ambas. Desenhar é coisa do passado. CAD é coisa do passado. BIM um dia será coisa do passado. O que virá depois? As conferências e palestras deram a concepção de que o "Futuro de se fazer as coisas"(o motd da conferência) é agora.

Enquanto saíamos da prédio gigantesco, a marginal Pinheiros estava lotada da carros. Demorou, mas pegamos um táxi. Comemos e entramos no ônibus para voltar. Enquanto a cidade se afastava, eu olhava o horizonte que ficava para trás. A cidade-cinza não se despedia. Ela olhava de volta, com um sorriso em formato de lua. Quando não era possível mais vê-la, sua luz estava no horizonte como aquele amanhecer.

Mas fiquei me perguntando ao final: São Paulo seria realmente a cidade do nascer do sol daquela madrugada?

Ou seria a cidade pôr-do-sol? Onde todas as luzes se põem?

Onde todas as luzes tem fim.




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