Terra Grande
Terra Grande
Quadro de Daniel Tavares
de Ruth Mellina;
O grande Idemoni que os assolam fez mais um aniversário.
Ele, que atravessou o deserto,
soprando as areias carregadas da fome,
Carregadas da seca.
Ele, que foi além das estepes,
Selou o cruel acordo.
E a mãe-terra chorou as lágrimas de marfim,
Aos pés da dissimulada civilidade.
Ele, que separou os irmãos com fronteiras de sangue,
Forçou o encarar entre contendedores,
O enxergar da velha dor de um povo
Bem nos olhos do inimigo que a gerou.
Ele, que pontilhou as gramas das florestas,
As savanas, as terras secas.
Com o sangue dos valentes o fez.
Segmentou o terreno, os laços, as esperanças.
O demônio que trouxe a seca,
Que trouxe a miséria,
Que trouxe a dor.
Ele trouxe, também, guerra.
As crianças, antes, fantasiavam na lama,
A transformava em poços cristalinos de água.
Criavam um paraíso no meio do mundo,
Com seus mágicos olhos pueris.
Contavam fábulas e histórias.
Histórias encantadas
De princesas que usavam sapatos.
Mas as crianças tiveram de parar de brincar; parar de sonhar.
Os homens costumavam ser felizes.
Ainda que na miséria,
Era possível se achar paz.
Mas, com o tempo, o assolador também a levou.
Mais um ano de vida se fez saudado.
Com palmas e considerações,
Idemoni recebeu os devidos cumprimentos.
Cumprimentado por aqueles que costumavam trocar os sinônimos.
É fácil trocar os sinônimos quando a distância é longa.
Ressignificam com as próprias visões,
Alegam-se inconformados com as injustiças do mundo,
Mas consideram desfeita não parabenizar o ríspido aniversariante .
Anos e mais anos.
O grande demônio varia em seus feitos.
Mas o povo continua forte.
Ainda lutam contra a potestade que um dia escolheu a sua terra.
Suas gerações perpetuam o valente sangue,
Imortalizam a grande história, ainda que desaventurada.
Essa, um dia, ainda será lida sob o verdadeiro olhar,
E trará mais do que a simples pena como instrumento de procederes.
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