hiato



minha rotina está quebrada
meu orgulho desmontado
minha pessoa desconstruída

não foram fáceis esses últimos dias
reconheci que desde que cheguei me perdi
entre o orgulho de ter passado em um processo seletivo disputado
um novo estilo de vida em uma cidade gigantesca
e na vontade de se sentir em casa

pela primeira em muito tempo
me sinto sem lar

nunca houve um lugar no mundo
em que eu me sentisse confortável
ou sequer relaxado por muito tempo

sempre estive de mudança, sempre nômade, sempre só, um jovem ermitão
e não importava quanto as pessoas dissessem "Eric, ninguém é sozinho"
sempre me senti sozinho, sem ter um lugar pra deitar a chamar de meu
minhas roupas sempre foram presentes de alguém ou emprestadas
minha cama sempre fora comprada por outra pessoa
os brinquedos, cadernos, livros e toda minha vida, até mesmo meu corpo
apenas existiam por serem dados, julgados ou usados por alguém

mas nem sempre foi assim, houve um tempo depois que retornei de Viçosa
que senti que estava bem em casa, que escrevi nas paredes meus sentimentos
e foi como se magicamente um pedaço do Universo fosse meu
pelo menos parte de mim sentia que talvez eu tivesse um espaço no mundo
sim, talvez esse espaço fosse aqui, agora, com todas essas oportunidades e novas pessoas

São Paulo me mostrou que não. existem culturas diferentes demais e individualistas demais
ninguém pode ceder - afinal - todos estão absolutamente corretos
a humildade é relativizada à hierarquias absurdas
mal consigo relaxar nesse clima de tensão constante
de estar sempre medindo o que falo ou quem sou
pra sempre parecer profissionalmente aceitável

talvez eu tenha me acomodado
acostumado com "o simples fato" (como diria meu velho amigo João H.) de que a minha realidade na UFMG era altamente mutável
as pessoas com quem convivia eram abertas à serem desconstruídas caso fosse necessário
sempre abertas à conversar sobre de caramujos a sexo, de preconceitos a dicionários

se estabelece ideais de moral e personalidade utópicos
e todos devem cegamente seguí-lo, sem pensar no próximo a não ser que afete a própria pele
havia me tornado assim nesse último mês, finalmente percebi e agora entendo um pouco mais sobre quem quero ser
apenas de ser estranho que ao mesmo tempo que eu seja criticado por não pensar no próximo
o próximo não consegue se colocar no meu lugar

perdem-se significados, compara-se extremos com a mesma facilidade com que compara-se dois produtos no supermercado
como igualar um item fora do lugar correto com um caso de corrupção?
como a desconfiança é a primeira impressão?
somos julgados, presos e condenados à morte
não cometa deslizes, seja perfeito

o mundo me surpreende a cada dia
e nessa história eu me conheço também a cada dia mais
mas não sozinho, pois "ninguém é sozinho"
pessoas boas estão em todos os lugares
que bom é encontrá-las com facilidade

esse blog entrará em período de férias pois por mais que eu ame escrever
sinto que preciso ter uma conversa comigo mesmo
preciso escrever nos meus cadernos
preciso escrever uma carta pra mim

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