Saudade



Eu achava que diários só serviam como uma forma guardar segredos, para se escrever tudo aquilo que só nós mesmos poderíamos saber. Com 5 anos, eu anotava tudo na minha agenda rosa, com a curiosa escrita de uma criança que ainda não havia aprendido a usar a letra "s" nas palavras. Mas, como a maioria das pequenas garotinhas, era muito mais interessante brincar no quintal de casa do que escrever palavras incompletas em um papel, o que fez o meu primeiro diário se tornar apenas mais um caderninho qualquer, após alguns dias.
Anos depois, achei ter descoberto o verdadeiro significado deles; expressar tudo o que o coração sentia, no fim de cada dia. Mas, para uma adolescente, haveria meios mais fáceis de o fazer, como uma boa conversa pelo telefone do quarto com a melhor amiga. E, mais uma vez, lá se foi em pouco tempo outra tentativa de montar um diário.
Talvez essa falta de persistência tenha se instalado como uma certa preguiça, pelo fato de tornar rotineiro o ato de separar dez minutos todas as noites para escrever sobre como havia sido o meu dia.
Depois de muito mais tempo, hoje, creio finalmente ter entendido o propósito dos diários, ou, pelo menos, uma de suas utilidades mais apropriadas para o momento. É mais do que guardar segredos e expressar sentimentos, é, principalmente, guardar as memórias. Mais do que um hábito repetitivo, o ato de escrevê-lo não tem de ser exercido todos os dias, porque nem todos os dias são bons, e são as boas memórias que valem ser guardadas, os lugares por onde passamos, as pessoas que conhecemos, as imagens que vislumbramos da cidade, seu céu de manhã, sua vista á noite, suas luzes, seu brilho.
Mudanças sempre farão parte da vida, e, em cada fase, há um pouco para se guardar. Como seria bom colocar em um pote todas as grandes amizades e pessoas que amamos, e levá-los conosco para onde fôssemos.
Tudo o que nos resta, então, é guardá-los no papel, anotar sobre os momentos engraçados e alegres que tivemos, sobre os lugares que visitamos e o que fizemos em todos eles, pois o corpo humano é uma máquina que se desgasta, juntamente com a nossa memória, e como seria bom poder lembrar em detalhes dos nossos tempos de criança, dos tempos da juventude e de todos que seguiremos vivendo até o fim da vida.
Diários, nossa garantia de lembranças magníficas. Quanta saudade trarão daqui um tempo, quando tivermos a oportunidade de  reviver tudo de novo em seus papéis.

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