História Experimental: Três dias


Parte 1 de 3 : Dia Um

- Só estou aqui por curiosidade - disse Pierre sentado de frente para a cartomante que devolveu à ele um sorriso de canto de boca, logo que ele a deu 50 euros.

Ela olhava fixamente nos seus olhos. Aqueles olhos de um castanho cheio de mistérios e segredos. Olhos de escuridão e imensas histórias. A sala era muito mal decorada. Era um pequeno apartamento de 10 metros quadrados em Paris. As paredes eram cheias de quadros de várias épocas, pintados nas fases mais loucas de seus artistas. Os espaços entre os quadros era preenchido por espelhos de diversos tamanhos e formas que pareciam ter sido encontrados no chão do metrô ou nas ruelas daquela cidade. Fora difícil de chegar ali. Era perto da linha 13, ou seja, sempre abarrotada de gente e que ia tão devagar... Teria sido melhor ir andando. Na parada de cada estação, Pierre fazia o cálculo de cabeça de quanto precisava andar, se descesse do metrô ali, até algum lugar legal naquela parte da cidade e poderia desistir dessa idéia louca de ir na cartomante. Agora na sala, ela o olhava intensamente sem dizer nada.

- Então é isso? Quanto tempo mais precisamos ficar nos encarando? - Pierre disse com tom irônico. A cartomante abriu um sorriso ainda maior, o que o inquietou por um momento. Ele pensou que desde que entrara na sala, ele ainda não tinha ouvido o som da voz dela. E a sala não cheirava mal. Na verdade, tinha o cheiro de um perfume bem caro da nova linha de luxo da Sephora. Aparentemente problemas de dinheiro a velha não tinha. Na verdade, olhando pro rosto dela detalhadamente, ela não parecia tão velha. Não, ela devia ter 30 e poucos anos. Mas os panos que cobriam seu rosto e seu corpo não deixavam que se visse direito a sua forma. O olhar de Pierre foi atraído pela janela. Quando chegara deveria ser aproximadamente 15h da tarde. Era primavera, o sol devia estar alto, mas não entrava muito luz pela janela.

- Que horas são? - Pierre perguntou à cartomante.
- Que horas você quer que sejam? - A voz dela foi absorvida suavemente pelos seus ouvidos. Era tão bela e forte, quase como se cada palavra entrasse direto no seu peito.
- Talvez a hora de você me dar as respostas que quero.
- Você não está pronto pra nenhuma delas.
- Clássica resposta de uma cartomante - Pierre respirou fundo com impaciência.
- Ela está aqui.

Ele congelou. É claro que todos temos nossos demônios, mas ela parecia saber...

- Ela quem?
- Ela vai embora em três dias.
- ELA QUEM? QUEM VAI EMBORA EM TRÊS DIAS?

Um homem alto, forte e com a pele bronzeada, com aspecto magrebino, abriu a porta e entrou na sala. Ele olhou para a cartomante que piscou os olhos. O homem pegou Pierre pelos braços e o tirou da sala, enquanto ele exasperado perguntava sua última pergunta.

- ONDE ELA ESTÁ?

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