confesso que não sei



Tenho uma amiga que sempre que conto pra ela algo sobre a minha vida, ela fala sobre si mesma. Quando conto algo sobre meu dia, ela fala sobre si mesma e sobre o próprio dia. Quando busco uma ajuda, ela fala sobre como ela resolveu os problemas dela. E quando confesso que estou em um estado de catatonia emocional, tentando encontrar respostas, me diz como ela está bem com a vida dela e as perguntas que tem ou às vezes ela nem diz nada, porque afinal é mais fácil só ignorar do que discutir essas questões.

Nos últimos anos - depois de 2013 - confesso ainda que não vejo mais a maior parte dos acontecimentos como bons ou ruins. Eles me afetam apenas ao ponto em que os deixo entrar. Quase como uma camada de sebo entre eu mesmo e a realidade. O mínimo de calor exterior - uma paixonite - faz um visitante inesperado. Porém as relações nunca foram tão efêmeras na minha vida. O tempo tem passado com uma certa indecorosidade velada, acordo pela manhã desesperado porque o dia começou atrasado e me vejo agora à noite olhando pela janela pensando no que eu tenho tornado a minha vida.

Existe uma separação entre quem sou e quem quero ser, não consigo reduzi-la nunca. Coloco objetivos mais ambiciosos e lugares mais altos pra chegar. É quase como se me contentar com o o que tenho fosse um desperdício de tempo - um latrocínio da minha própria felicidade. Mas e aí vem a culpa : essas oportunidades que tenho vivido são tão únicas que dedicar apenas o bastante vira um tiro no pé. E ao mesmo tempo, a culpa de ter escolhido esse caminho e ter perdido ou me afastado de tantas pessoas fantásticas na minha vida?

Um ano se passou e nessa reta final, não me sinto preparado. O salário dos dois trabalhos de verão - guardado na conta do banco - se esvazia com os segundos que passam e as folhas que ainda caem nesse inverno. A minha condição financeira se degrada e a minha estabilidade mental está ameaçada. Acho que a pior parte de toda essa combinação de inseguranças é viver num ambiente em que ninguém precisa se preocupar com o que te deixa acordado à noite. Isso causa uma sensação de injustiça imensa que luto constantemente pra ultrapassar. Depois de um pouco eu lembro que esse sentimento é universal. A maior parte do Brasil e do mundo vive num estado assim 100% do tempo. Algumas pessoas ignoram a injustiça por uma questão prática : não tem como resolvê-la à partir da base da pirâmide sem ter um grande engajamento. Outras pessoas aproveitam das desigualdades pra manipular os teus desejos e as tuas ambições.

Talvez eu precise ir um pouco mais fundo do que isso. 

É fácil aceitar as manipulações e as distrações quando não se sabe direito quem é ou quem se quer ser. Um pouco mais difícil quando se sabe quem é ou quem se quer ser, mas a percepção de quem você é, esta se baseia em argumentos rasos e idéias copiadas do feed do Facebook. 

Acho que minha mente está tão carregada com vídeos, textos e imagens dadas pelos algoritmos que a concepção da minha autoimagem foi distorcida à um ponto absurdo. Eu preciso me alimentar de outro conteúdo. De encontrar uma fonte saudável de informações e pensamentos, sem um viés nebulizador. 

Uma parte de mim ainda guarda um certo recuo e a ouço sempre que resolve cochichar algo no meu ouvido. Mesmo que não compreenda totalmente os motivos. Agora é sobre a China. Precisamos de alguma forma ter uma experiência lá do outro lado do mundo - ou aqui, com essa outra cultura. Um sentimento sobre como será moldado esse tal de futuro. Um sentimento sobre o caminho que minha vida tem que tomar. Uma loucura.

Confesso que perdi um pouco essa minha essência no desespero cotidiano. Confesso que existe também uma série de suposições e falácias que ocupam minha mente atualmente. Nenhuma delas baseada no que é real. O pior meu caro leitor, é que na sua também.

Não sei como vamos criar uma resiliência mental nessa nova era digital. Nem sei como vamos construir qualquer tipo de empatia realmente altruísta. 

Como você faz com a tua vida? 

Vem falar comigo. Amo ouvir tanto o suspiro quanto o aspiro.

Comentários

  1. Sei que me afastei de tudo e todos naquela época. Que fiz muitas coisas que não sinto orgulho, mas me ensinou muita coisa. E uma delas é que nenhuma paixão vale mais que um amigo.
    Sinto sua falta,falta de como nos falávamos antigamente, de como era bom ter um amigo de verdade do meu lado.
    Sinto falta de te perguntar sobre seu dia, sobre sua vida, mas não sei como serei recebida,��
    Saudades do meu amigo, do meu primeiro amor.
    Grande beijo
    E nunca se esqueça que do lado de cá tem alguém orando por você.

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