Carta Pessoal aos Meus 25 Anos
Ontem eu completei esse número,
tão redondo, tão simbólico, 25 anos. E a sensação que tenho é de estranhamento.
Eu sinto uma solidão extremamente confortável, e eu clamo por ela. Eu sei que
pareço uma pessoa feliz quando cercada de companhias, mas, neste momento, pelo
menos, tudo que eu mais queria era estar sozinha. O conforto que isso me traz é
friamente maravilhoso.
Outra sensação que tenho sentido,
em despertares graduais, é de estar acordando pra vida. Não da mais pra ser uma
menininha fútil e dependente dos pais. Já faz um tempo que tenho me despertado
pra essa noção. Agora, eu já tenho outras preocupações, como me sustentar e
cuidar da minha própria vida. Isso é estranho, porque ninguém nos ensina como
ser adulto, ou quando é que chega este momento. Não existe um marco genérico,
isso varia em cada vida. Na minha, eu nem sei mais quando me veio essa noção,
mas mais do que nunca, talvez pelos meus anseios emocionados poéticos, isso
veio mais forte agora, nessa data tão redonda.
Eu posso descrever uma
pluralidade de sensações, como preocupação, tristeza, alegria, insatisfação,
raiva, egoísmo, tudo ao mesmo tempo. Mas sem dúvida, talvez a irritabilidade
seja a mais marcante. E isso tem me preocupado bastante, por motivos que nem eu
mesma sei. Mesmo fazendo terapia, tentando me manter nos trilhos da saúde
mental, ainda assim, parece que eu vou explodir as vezes. Eu me sinto tão
cansada das pessoas, das suas vozes e dos seus barulhos, dos problemas delas. Sejam
estas pessoas estranhas ou não, amigas ou não, familiares ou não. Eu
simplesmente não ligo mais, e amo estar sem elas. Eu tenho amado viver egoistamente
sozinha, e isso tem me preocupado. Eu tenho amado o silêncio do vazio.
Eu tenho muito para ser grata,
mas ao mesmo tempo, falta tanto. Eu só consigo pensar no quanto eu desejo
conquistar meus objetivos e minha felicidade pessoal. O que mais me traz
alegria é o fato de poder estar comigo mesma em satisfação. Isso também me
preocupa, porque não tenho sentido prazer em outras coisas. Meu prazer é sempre
sobre mim, sobre estar comigo mesma, satisfeita com as minhas projeções
alcançadas.
Acho que são palavras muito
pessoais, escritas sem muita dedicação de formalidade sintática. Mas de um peso
tão grande, tão íntimo. Somente aqui eu poderia falar sobre isso, porque aqui
não há pessoas conhecidas, e isso é uma coisa que me traz segurança, falar
para mim mesma em um lugar vazio, ou onde há pessoas que estão longe de mim. Já
faz um tempo que eu desejava escrever, mas estava sem coragem pra verbalizar
tudo isso. Agora vejo como sinto falta da escrita, mesmo que de modo informal. Talvez
eu devesse voltar a investir mais nisso.
Tenho investido muito em
meditação e autocuidado. E ainda assim, passei as ultimas cinco semanas doente,
tomando antibióticos, tentando me curar de infecção de trato urinário, infecção
de vias aéreas, de vaginite por desbalanço de flora. Isso é outra coisa que me
entristece, perder minha saúde ou vê-la em desgaste. Tem sido difícil cuidar
dos outros quando eu também preciso de cuidados. Mas acho que isso é fácil de
superar, quando se racionaliza um pouco mais. Faz parte da minha profissão.
Conheci muitos do sexo oposto
nesses últimos tempos também. E mais uma vez, me pego realizando o mesmo
comportamento: colocando prazos de tempo para evitar decepções. Mas andei falhando
nisso, e agora sinto mais um vazio enorme, junto de medo e insegurança. Como eu
disse, meu egoísmo tem me preocupado.
Acho que esse é um desabafo interessante,
um resumo dos meus últimos anos de vida comigo mesma. Como mudei nesses 25
anos, uma mudança rápida e muito variada. Não sou mais uma Ruth inocente, pura,
encantada. Talvez eu esteja, agora, o oposto de tudo isso, cheia de fibroses da
vida, totalmente desencantada com tudo, sem nenhuma pureza sobre o mundo e as
pessoas. Cheguei até aqui, e isso sem dúvidas é um bom motivo para agradecer. Não
faço ideia dos próximos anos, mas espero ter ao menos duas coisas: eu mesma e
minha poesia. Que isso nunca se perca.
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