Carta ao passado - 29 A

 Ei.

Sei que faz muito tempo que não conversamos. 

Eu sei. É minha culpa. 

Eu não sabia o que te dizer e de certa forma, me dava desculpas para não te escrever um novo texto.

Acho que mudei muito desde que nos falamos pela última vez. Hoje tenho 29 anos, uma dívida bancária imensa acoplada à um apartamento, um emprego estranho em uma área de pesquisa mais estranha ainda. 

Ainda continuo tendo medo das profundezas do mar e do escuro em algumas noites quando estou sozinho. Esse sentimento que você tem aí de solidão nunca vai desaparecer. Sei que você pediu algumas vezes pra que te enviassem um sinal, qualquer coisa que te mostrasse que você não está só. 

Você está só. 

Não tem como fugir, não tem como esquecer e não tem como se arrepender. Principalmente não tem como se arrepender agora. Depois de ter feito tanto pra chegar onde você está. De ter sacrificado tanto.

Valeu a pena? Sinceramente não sei. Ainda é cedo pra julgar. Será que algum dia você vai olhar pra trás e dizer que realmente valeu a pena? Acho que não. Você é insatisfeito demais pra aceitar a realidade tal qual ela é. 

Você cria a sua própria realidade. 

O problema é que você sempre vai magoar as pessoas ao redor de você. Não existe uma escapatória pra sua própria natureza. Pois é, você nunca acharia que leria essas palavras de mim. Quando éramos mais novos, você achava que qualquer pessoa poderia ser quem ela quisesse ser. Uma pura questão de vontade e disciplina. Existem pessoas que passam a vida inteira sendo quem elas são e nada mais. Inclusive, começo a desconfiar que seja seu caso...

O que tem os amores? Não, você não está mais com ela. Nem ela. Nem essa outra pessoa. Com quem você está? HÁ! Boa pergunta. Você está consigo mesmo meu querido Eric. Solteiro? Não, não é isso. Você não consegue ser você mesmo com ninguém que você conhece, tampouco com quem você ama. Não é triste não. Você se conhece um pouco melhor agora do que antes. Acredite em mim, as escolhas que você tomou nunca foram tão acertadas. Os caminhos abertos pelas raízes de Yggdrasil ligados à sua vida são tão caóticos quanto surpreendentes. Na barraquinha da vida, pedimos uma dramática no capricho antes de nascer.

A principal lição que eu posso compartilhar - que talvez te ajude: você fez todas as escolhas certas pelas razões erradas até aqui. Quase como se a sua intuição soubesse mais sobre a vida do que a razão que imagina ter usado até hoje. Essa intuição foi essencial e já passou da hora de começar a acreditar mais em ti mesmo. E mesmo treinar a própria intuição.

Aliás, vou te contar algo bem interessante sobre a época atual. Existem máquinas capazes de criar arte, engenharia e ciência, efetuar tarefas de maneira automática como a limpeza de casa, encontrar, resumir e te ensinar sobre um assunto qualquer, escrever uma mensagem, uma carta ou um livro. As máquinas conseguem até mesmo criar código de programação. Imagine uma máquina que é capaz de escrever o próprio código e mudar seu funcionamento. Programas que criam programas. Elas podem executar essas tarefas e mais outras em mais de 20 línguas diferentes. 

Como é possível? Essas máquinas foram treinadas através da criação artística de milhões de humanos por exemplo. Ela se alimenta do que já foi feito pra regurgitar algo novo. Elas são desprovidas de empatia, de vontade e de intuição. 

Agora, adivinha quais são as áreas em que os seres humanos menos investiram em seus milhares de anos da existência? O que pode te dar uma vantagem pequena em relação à essas máquinas é treinar essas competências. Boa pergunta, também não faço a mínima idéia de onde começar. 


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