Erik, The Red - 1 - O Princípio

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Era um tempo antigo. Não exatamente antigo demais para que se esquecesse e apenas se falasse dele em antigas lendas, mas também não pouco antigo, como lembrar o que comi ontem no jantar, embora não lembre. Mas era um tempo em que minha memória ainda era sã, e minha consciência plena.

Penso naquele tempo como uma memória turva e boa, mas como uma neblina recém-chegada à um campo de juncos quando a lua está mais alta que o orgulho de pequenos homens, minhas memórias estão repletas de orgulho ferido, e histórias cheia de neblinas. Porém, ainda acho, que consigo contar uma boa história. Dentre alguma, vou contar sobre uma época que a verdade era pequena, e as doces vaidades da vida preenchiam nossos desejos, e nossa luxúria era guiada por uma vontade irreverente de ter conquistas a acumular e sangue a derramar.

Éramos três. Não por opção, mas sim por que Sólon na época só mandava para as pequenas missões, grupos de 3 órfãos. Um número, que segundo muitas pessoas, trazia boa sorte. Não éramos novos, mas também não éramos velhos, tínhamos basicamente a mesma idade, porém por sermos órfãos, não sabíamos quantos verões já haviam se passado desde o nosso nascimento.

Eu era o líder.

Ao meu lado direito mantinha meu amigo e compatriota mais querido, Fábio, cuja espada havia me protegido mais vezes da morte do que podia contar, e também carregava cicatrizes e talvez até mais que o peso de sua espada em suas mãos, talvez carregasse o peso de ser humano, mas isso é outra história. E à minha esquerda, mantinha um filósofo genial, conhecedor de todas as línguas e lugares, mas principalmente, um grandioso guerreiro, recém-chegado de uma terra distante, que chamavam de Gabriel. Em algumas religiões, esse nome era uma espécie de divindade, que chamavam de anjo.

Para mim, era só um nome, assim como eu, Eric, sou só um nome, e talvez um dia, nem lendas nem guerras se lembrem de minha história, mas eu, Erik, o Ruivo, conhecedor das verdades humanas e vontades efêmeras, creio que esses tempos passarão, e paz será traga ao reino. Porém, enquanto isso, essa paz precisa de guerra.

Desembainhei "Hand R' Chz" - minha espada - e vi meus inimigos à frente. Fábio fez o mesmo com "Kharm Ihl A" - sua espada - e Gabriel pegou sua besta - e ele achava bastante inútil as armas terem nome - Nenhum de nós tínhamos escudos, mas não precisávamos, um protegia o outro - além de que, aqueles répteis eram burros demais para atacar corretamente.

Estávamos acostumados a lutar com répteis escamosos, que falavam e andavam entre nós, porém, não era nem de perto normal.

Eles não eram organizados, e em Reptilia, aonde um dia chamarei Groelândia, os Reptilianos eram um povo extramemente bárbaro e hostil.

Vi eles correndo na nossa direção. Nunca acreditei nessa baboseira e ignorante religião, nem na dos antigos deuses, nem desse atual único, mas quando empunhei e cortei a primeira garganta de réptil, espirrando sangue verde em mim, e fazendo mossa na espada, me perguntei se eles rezavam para algum deus réptil enlouquecido.

A batalha foi interessante. Ergui minha espada com a mão esquerda após ter matado o primeiro réptil. Olhei à frente e vi que restavam quinze no meu flanco, ouvi sons de espadas no flanco esquerdo e direito, mas meus amigos sabiam cuidar de si mesmos.

Um estava mais próximo e veio correndo à mim, com uma espada na mão. Cortei a primeira vez pela direita, o golpe foi aparado, em seguida, girei a espada e estoquei contra seu peito, perfurei sua frágil defesa de couro e girei a espada dentro do corpo daquela criatura nojenta e ignorante.

Tirei a espada e corri até o próximo que tinha uma lança na mão. No chão havia grama, e não se podia diferenciar muito bem o que era sangue de réptil e o que era grama, e ouvi Fábio escorregar, não olhei, mas cortei a cabeça do meu fraco oponente e peguei sua lança de seus mãos. Girei meu corpo para a direita, olhei onde um réptil estava próximo ao Fábio e atirei a lança com precisão absurda. A lança perfurou o olho direito até a parte de trás de sua cabeça, varando sua nuca e fazendo-o cair, Fábio gritou "Esse era meu seu grande imbecil!".

Ignorei o pobre - ele me matará quando ler isso - humano e sua consideração infeliz e girei meu corpo para a esquerda, com a espada virada de lado, utilizando como uma navalha bem afiada, cortei o cérebro de um imundo ao meio e um outro, menor, que vinha em minha direção que tropeçou e recebeu minha bota em seu belíssimo rosto com bastante força para destruir seu crânio reptiliano. Queria testar um golpe, peguei a espada que estava na mão do réptil que tinha acabado de matar e supreendeu-me pois ela era feita de ouro com entalhes feitos em diamante. A segurei, e fiz uma coisa que fico enjoado até hoje de pensar. Fiquei girando meu corpo em uma mesma direção, e retalhei outros cinco reptilianos que chegaram próximo à mim. Parei, e não que eu entenda sobre isso, mas parecia que eu havia copulado com centenas - de milhares - de cortesãs.

Gostei daquela espada de ouro. Parecia reluzir ao sangue verde encharcado em sua lâmina. Matei os dois répteis seguintes com os gumes das espadas, enterrando-os em seus ruprestres ombros verdes e escamosos.
Restavam apenas três escamosos. Um deles era mais alto que os outros, porém extremamente magro, e o outro, era baixo, mas extremamente e aparentemente musculoso. O terceiro estava mais recuado e se parecia muito com algum tipo de comandante, seu porte ereto parecia superior aos outros reptilianos que ali estavam, vivos e mortos.

Ergui Hand R' Chz e minha nova espada de ouro - que mais tarde chamei de Reptilia, mas isso também é outra história.
As lâminas refletiram a luz do sol no rosto dos animais, e assim que vi que havia cegado os dois mais próximos, acelerei meus passos, levemente abaixado para pegar impulso e antes de chegar perto deles, pulei para direita rasgando ao mesmo tempo a barriga exposta e o pescoço do mais gorducho. O mais alto veio em seguida, investiu contra mim com um machado gigantesco feito de chifre de elefante, porém, assim como machados são armaduras mortais, também são atrapalhados. Após seu golpe mortal ter batido no chão atrás de mim, quase nos meus calcanhares, ergui Hand R' Chz em uma estocada única e fatal de baixo para cima, perfurando seu corpo magro através da barriga e saindo pelas costas. Puxei a lâmina até sair próximo a cintura do animal e joguei seu sangue pestilento para o lado.

Apenas restava um. Esse usava uma armadura de batalha completa, porém, com as costas e barriga expostas, assim como abaixo da cintura. Investi correndo contra ele, e ele desembainhou sua espada, que surpreendentemente era feita de diamante. Parei à uma distância em que ele não poderia parar, mas eu poderia fazer o que planejei. Me abaixei, o que surpreendeu o Reptiliano que logo riu e posicionou o gume da espada para me perfurar, em seguida, rolei para o lado direito, e notei a expressão de surpresa de seu rosto, joguei minha espada de ouro na direção dele como se fosse uma lança, e abri um corte em sua perna direita com essa ação. Ergui Hand R' Chz para o céu, e enquanto ele olhava para sua perna machucada, baixei a espada com tanta força, que cortou aquele pobre animal ao meio, dividindo seu ser em dois.

Me virei e vi meus amigos me esperando cobertos de sangue reptiliano. Enquanto andava na direção deles, vi suas expressões se remexerem em um terror desesperado. Olhei na direção que olhavam, e vi que o comandante havia se erguido, por um instante estava me perguntando se não o havia cortado realmente. Mas então vi o que havia acontecido. Haviam dois comandantes. Aquele verme se multiplicava quando o cortava, talvez fosse uma nova evolução daquela raça pestilenta. Sabe, se fosse talvez alguns anos mais novo, teria o cortado um bilhão de vezes, porém, queria ver algo queimando naquela manhã.

Fábio pegou em sua pequena bolsa de couro de coelho uma garrafa de rum, e Gabriel, trouxe na sua bolsa, uma coisa que haviam descoberto no ocidente chamada pólvora, e que com uma mistura especial de Gabriel dentro de um pequeno pano bem amarrado com tripas de carneiro, libertava fogo mais vermelho que meus cabelos e minha barba para todos os lados. Joguei aquele pequeno pedaço de magia em cima de um reptiliano, e as chamas ficaram altas o bastante para o eu queria. Os comandantes répteis começaram a correr na minha direção, mas por uma ironia do destino, toparam com o fogo no meio do caminho deles me encarando. Enchi a boca de rum, e cuspi na direção deles. Como um dragão cuspindo fogo, jorrei fogo nos seus corpos escamosos que correram em círculos, e o fogo os queimou, até virarem cinzas.

Esperei para ver se nascia algo das cinzas, mas nada nasceu. A espada de diamante ficou com Fábio, mas não sei o que ele fez com ela, pois nunca mais a vi.

- Eric, O Ruivo, O Dragão do Norte - Saudou Gabriel.

Eu nada disse, apenas segui nosso caminho de volta à humilde moradia na vila de Sólon. Talvez esse Sólon fosse o de uma grande história contada no passado, mas talvez não. Porém, ele era extremamente velho.

Na verdade, existem muitos que diriam que Sólon é mais velho do que o próprio mundo. O que me lembra de uma história engraçada de como surgiu o mundo. Mas isso também é outra história para depois.

Apenas desejei voltar à minha doce casa. Mal eu sabia que aquela seria a última vez que me lembraria de como nossa vila era pacífica e forte. Quando voltei para casa, havia perdido tudo.

Comentários

  1. Orgulhosamente programei uma 'chamada' para este ótimo artigo no novo site dos Blogueiros do Brasil. O post será publicado dia 07/12 às 17h .

    Considere a possibilidade de atualizar a URL no nosso banner. Desculpe-me pelo transtorno.

    Abraços cordiais.

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