Escafandrista


O som aqui, tocando baixo. Um rock leve, martelando na cabeça. As botas estão em algum canto, com as meias socadas dentro delas. O quarto está com meia-luz e ecoando o som que morre a partir da luz do computador ligado. A calça incomoda um pouco, mas está frio. Os pés em cima da mesa, e além da música, só silêncio lá fora.

Só silêncio aqui dentro, barba por fazer, rosto um pouco incomodado. Um corpo que não precisa de muito, um pouco de água, um pouco de algo salgado, talvez um pouco de fumaça... um pouco da carinho talvez. Os olhos incomodados, por tantas noites sem dormir, o quadro na parede, pedindo uma nova anotação. O armário ocupando o quarto, a noite dominando o ser.

Os dias voando, passando rápido, a dor continua aqui, eterna, imutável. O rock continuando tocando, "Owner of a Lonely Heart", talvez seja verdade, seria uma grande burrice. Perder tantas coisas, tantas oportunidades. Ah, que grande mentira. A realidade é bem diferente do materialismo.

O tempo passa aos poucos, os pés começam a congelar pelo frio, os pêlos por baixo da camiseta não são o suficiente pra suportar o frio. Era hora de acostumar já. E esse tempo, não respeita nem um pouco, continua passando. Os olhos, apesar de profundos, parados, imóveis naquele mesmo instante do passado longínquo. O rosto sem expressão, distante.

Começa a tocar Pearl Jam, Black. "Sheets of empty canvas, untouched sheets of clay". A boca sem expressão, , ao contrário das maioria das bocas que tem ao menos a expressão de bocas comuns, aquela boca, essa, aqui, não tem expressão. Apenas está lá, parada, esperando o vento, a brisa tocá-la novamente. Tudo foi tocado, realmente, não há nada sagrado mais. O ser, pura fúria, o ambiente, pura calma. Porque não inverter?

Basta um pequeno passo.

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