História Experimental: Mr Sandman Bring Me a Dream


Então é noite e o sono vem, mas ele não se entrega para o Mr Sandman. Fica olhando letra de músicas, lendo uma ou outra notícia aleatória, acessando o Facebook para qualquer mensagem recebida. Então é noite, e o anoitecer é mais interno do que externo. Como ele havia parado ali? É como se demorar demais em um lado da rua, esperando os carros pararem para atravessar para o outro lado, mas eles nunca param. Na verdade, é bem provável que os carros nunca tenham existido... A rua talvez sempre estivesse vazia desde o início. Como saber a noite está aqui e não há luz alguma para ver?

Hora de ir até a cozinha, beber água. Os passos ardem no chão, o barulho ensurdecedor dos vizinhos acompanha a noite. No corredor, espelhos o observam pelas paredes, espelhos escuros que refletem a própria maldade que existe no ser. "Porque existe tanto mal nesses olhos que me observam?" o tal tolo, pensava. Não havia nada mais com que se preocupar, a tempestade estava posta à mesa, seu barco já havia recolhido as velas e aguardado o mar se acalmar. O mar não se acalmava. As memórias ainda caíam a todo momento, as lágrimas ainda queriam rasgar o peito, porém não saíam.

Os passos eram curtos, arrastados. Os olhos, cansados, cheios de olheiras fundas e negras. A cabeça baixa, olhando o chão, vislumbrou um pedaço de pano negro que parecia ter vida. O pedaço estava ligado à outro pedaço, que desapareceram pela porta da cozinha. "Olá, soube que você se recusa a entrar no meu reino todas as noites" uma figura negra com olhos profundos e com pontos amarelos no centro, brilhantes, infinitamente brilhantes. A figura estava envolta em um pano negro, uma espécie de capa que parecia ter vida própria e era inundada de trevas, ocultava a figura que permanecia nas sombras.

A voz que ressoava na cabeça era baixa, arrastada, como um sussurro puro do vento que vem da praia durante à noite, carregando areia salgada, carregando o significado do Frio. "Como você está conversando comigo dentro da minha própria mente?" o tolo perguntou. "Nada disso existe, eu não terei tempo de explicar. A questão é, porque você se recusa a entrar no reino dos sonhos? Por você se recusar tanto, apenas sombram à você, os piores pesadelos, aqueles que ninguém quer" o deus do sono respondeu.

O tolo refletiu por um momento qual seria a resposta para aquela questão, havia milhares de respostas, mas nem ele havia pensado em qual seria a verdadeira, a maioria das respostas eram mentiras para si mesmo. Mas em um lampejo de inspiração, ele respondeu "Tenho medo de não acordar". Morpheus disse "Eu lhe darei bons sonhos, sem pesadelos, lhe darei a paz que precisa. Quando chegar o dia que você não irá acordar depois de um sonho, não se preocupe, você viverá para sempre como meu emissário, viajando entre meu reino, passeando para sempre entre milhares de vidas e imaginações". "Mas isso não faz sentido, o que você quer em troca?" o tolo não tinha tempo de achar aquilo ridículo, ou chamar a polícia por ter um cara estranho na cozinha dos pais dele, ele sabia que o tempo para aquele encontro estava acabando. "Seja infinito", o homem se tornou areia negra, cada vez mais fina, até desaparecer completamente.

O sofá estava mais perto que o de costume, e pareceu mais confortável do que o normal. O tolo se deitou e dormiu. Sonhou que assinava um acordo... Um acordo para viver eternamente...

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