Se não, Não faz

Sabe quando seus olhos estão cheios de vazio? Quando suas ações parecem estar vindo de nenhum lugar pra lugar algum, você pensa que tudo que você pode fazer é esperar sentado e nunca mais viver. Mas não. O silêncio estava lá. Você estava lá. Havia vida. Havia felicidade. Ainda pode existir felicidade. Você deve entender que nada disso que você pensa pode ser verdade, deve ser provavelmente uma grande mentira, ou uma grande história contada pra alegrar pequenos e inusitados anões de jardim. Você tem que entender que na verdade, a vida não faz nenhum sentido. Você pode sair, se divertir uma noite, duas, você pode encontrar a pessoa da sua vida na esquina e pode perdê-la no próximo momento, mas nada disso faz sentido. Nada disso faz o menor sentido. Porque a vida é exatamente assim, sem sentido. Você pode viajar, conhecer mil lugares e encontrar a paz espiritual no topo da montanha mais alta do mundo, morrendo de frio. Mas ainda sim, nada disso faz sentido. Você pode começar a passear e viver todos os dias da sua vida para criar uma família e existir com ela, criar seus filhos, criar uma história e comprar uma casa em várias prestações se for pobre, ou em uma só se for rico. Você pode dar carros pros seus filhos e vê-los felizes terminando a faculdade, você pode. Mas também nada disso faz sentido. O que faz sentido então? O que eu posso procurar além do que está no limite da minha visão? Ela é realmente tão limitada assim? Você pode ser mal, comprar uma moto e atravessar a América do Sul nela, aproveitando o que cada lugar tem de melhor, o que cada lugar pode oferecer, ou simplesmente tomar de cada lugar o que existe aqui com ele. O que existe aqui pra te entregar como presente, você toma, não o contrário. Enfim, nada disso faz sentido. O que você acha que faz sentido? Você pode ser feliz em um beijo, em um abraço, mas a vida precisa de algo mais. Você pode escrever sobre histórias e romances, e memórias e lágrimas, mas ainda sim, os livros ficarão empoeirados e um dia, as páginas ficaram brancas porque as impressões não duram tanto assim. Só duram mais que eu e você. Você pode matar judeus, ser um ditador de um país, marcar a história como o homem mais cruel, o homem mais assassino de todos os tempos, mas mesmo assim, o sangue das suas mãos não te trarão felicidade. Descontentamento. É aí que os mundos começam, é aí que eles se destroem. É aí que toda história pode mudar, quando você está descontente. Então, meu caro, com o que você está descontente? Comigo? Com você? Com a sua vida? Com sua religião pré-concebida em um berço de ouro? Então?

O que vale a pena, se não os olhos, se não os pulos, se não as quedas, os vôos. O que vale a pena se não o próprio sol? O que vale a pena se não o que de alguém que te marcará para sempre, o que vale a pena? O que vale a pena além da dor e do amor sentidos ao mesmo tempo em uma rua vazia, cheia de pedras colocadas há muito tempo atrás? O que vale a pena além de uma noite inteira virada, olhando para a lua e se perguntando o que fazer? O que há de belo na dúvida? Parece simples, mas o que há te belo na dúvida é duvidar. Essa tarde sopra vento nos meus cabelos recém-cortados. Essa tarde tem sol se espalhando em cada ser humano que vive nessa metade da Terra. Essa tarde traz novas oportunidades. Essa tarde, eu não quero ser admirado ou temido, essa tarde eu quero ser. EU quero ser. Nessa tarde eu não quero me enforcar, ou pular desse segundo andar direto em um barranco cheio de terra. Nessa tarde eu existo infinito. Nessa tarde eu sinto as teclas apertarem contra meus dedos, rápidas, incessantes, aparecendo na tela, enquanto meus olhos fechados estão as pressionando. Nada disso pode fazer sentido pra você, mas não sei, feche os olhos e começa a viver. Não sei, feche os olhos e se arremesse por um segundo, você talvez entenda a sensação, você talvez sinta a sensação passar pelos seus olhos, passar pelos seus pensamentos, passar pela sua pele, e então, tudo para. Só existe o silêncio, algumas guitarras tocando ao fundo, o que isso quer dizer? Nada. Exatamente. Nada, Você está livre. É o velho livre-arbítrio. É a velha epifania de todos os dias, aquela que se dá quando você pára de olhar pro chão, pro rosto das pessoas ao seu redor, e você admira o céu, admira o quanto ele está incrível nessa tarde.

Talvez seja verdade que todos os sonhos, na verdade são feitos da mesma matéria que a realidade é feita. Sabe o que é correr pra lugar algum? Sabe, meu bem? Sabe o que é não saber onde você está, sabe o que é não saber o que existe ao seu redor nessa sala escura? Você só precisa de luz, você é essa luz. Você vê ela dentro de você, tenta abrir o pequeno compartimento onde ela se esconde, então você abre com uma pequena chave de fenda, uma só usada pra esse fim. Sim, esse fim, esse final, em que você abre, pega aquela lâmpada, tira e coloca no teto. Sabe, é simplesmente necessário. Você não pode ficar mais aqui. Essa ala não tem ar. É natural sair daqui. É natural pensar que você não pode mais ficar fechado, trancado aqui. É tão repetitivo também, é tão bobo. Estúpido na verdade, que você tenha ficado tanto tempo em uma sala tão pequena, e com tantas janelas, mas todas fechadas. Você vai até as paredes e começa abrir as janelas. Uma revela caminhos estreitos, escuros, diferentes, obscuros, caminhos nunca trilhados, mas sempre conhecidos. Outro revela amor, revela casamento, alegria, felicidade. Outra revela música, que enche seu peito, enche sua alma, é como dançar, é como sorrir. Aqueles segundos em que a gargalhada é alta. Outra é um banco, onde você estaria sentado pra sempre. Outro é a felicidade. Simples. Está lá. É só deitar nos braços dela. Mas o que é um sorriso sem uma ventura? O que é uma vida sem vários e simples precipícios sem volta para voltar? Existe uma última janela a ser aberta, pois as outras não tem lugar pra abrir. Lá fora não tem sol. Ela brilha com um humor negro, uma idéia diferente, um brilho único e inesperado. Um risco. É tudo que se vê.

Eu poderia pedir pra você ir embora, eu poderia. Eu só não pedi porque eu ainda não quero. Você querendo ou não, mesmo que não seja você, ainda tem uma parte que preciso pra ficar vivo até descobrir o que colocar nessa parte. Talvez eu use alguma parte antiga que usava em outro lugar, talvez fosse só uma idéia maluca de vida, afinal.

Pego a bicicleta, começo a pedalar. Pra onde vou se mal conheço o caminho? Pra onde vou sem luz, pois minha luz deixei naquela sala que tive que iluminar? Não sei, continue pedalando. Uma hora o caminho aparece.

Então é isso? Nessas frases pequenas e tortas esse texto vai acabar? É sim, acabou já, você não percebeu? Sim, percebi. Só gosto de prolongar algumas dores um pouco mais que outras, sabe, é pra fazer marca, se não, não faz.

Comentários

  1. Dos blogs que tenho acompanhado recentemente, acho que esse é um dos textos mais introspectivos e sinceros que li nos últimos meses.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Citações Interessantes do Livro: O Temor do Sábio

Previsão: A Crônica do Matador do Rei - A Porta de Pedra