Escreva sua alma

Grande parte do que se vive, se vive só. Quando se está andando nas ruas, pensando em lugares distantes ou no próximo instante, não há como saber o que o outro sente, o que o outro pensa, se respirar não incomoda ou se amar não dói mais. Simplesmente não há como saber. Cada corpo é como um invólucro fechado à vácuo, um Universo particular e limitado pela pele. Embaixo da pele, tudo que se sente é individual. Acredito essa ser a maior dor de viver.

Muitos dias se passaram e mais ainda depois, desde que a primeira pessoa olhou para uma segunda pessoa e se importou. Se importou com o que ela sentia, o que ela pensava, sonhava e sorria. E ainda sim, mesmo com tanto tempo, parece que as pessoas nunca realmente entenderam esse sentimento. O real significado da palavra "empatia" parece extremamente perdido. Talvez seja apenas minha visão, sem nenhuma dúvida, as pessoas podem e provavelmente estão erradas ao tentar construir afirmações absolutas. Mas, desde que me lembro de começar a sentir, não me recordo de nenhum dia em que os sentimentos das pessoas realmente importaram pra alguém aleatório. Claro, existe quem se importa com tudo, porém esta é uma pessoa tão rara que hoje em dia, tudo que a resta é tristeza. Há tristeza demais nesse mundo. A dor permeia todos os seres vivos.

Um dos princípios da filosofia oriental-budista é justamente esse. A dor é sentida por todos seres vivos. Desde a árvore cortada em função do progresso, passando pela minhoca comida por um pássaro até nós, que vivemos imersos em momentos tristes e felizes. Mas, se "a maior verdade do mundo" é a dor. Como encontrar a felicidade? Não se encontra. A felicidade não deve ser procurada pois não pode ser encontrada. Não está embaixo de uma pedra, numa garrafa de álcool ou nos prazeres carnais. A felicidade reside no ser. Na vida. Ela não é uma escolha, como qual salada escolher no SubWay, é o caminho. E é o único jeito de superar, ou melhor, viver sem dor. "Quero uma chance de tentar viver sem dor", como cita a música.

Mas esse texto não tem essa função chata de auto-superação estilo Augusto Cury. Como sempre, eu começo a divagar demais.

O que eu quero falar é sobre a solidão. Esse estado constante de nada. De tentar se comunicar com alguém mas não obter resposta. Como gritar em uma caverna gigante mas não gerar eco. Eu não sei. Talvez seja só eu que sinta isso. Eu falo e falo com outras pessoas, mas parece tão diferente. Talvez seja só uma questão de interpretação. Como saber se o vermelho que eu vejo é o mesmo que você vê? Como saber se o que eu sinto é o mesmo que você sente?

Às vezes, sinto que falo com estranhos. Converso com pessoas que não falam nada. Elas dizem, abrem a boca, o som sai e bate no meu ouvido. Mas o som é morto. É um som sem vida. Nesses momentos, sinto como se fosse um pássaro voando na praia. Eles só abrem as asas e se deixam levar pelo vento. Não importa realmente para onde o vento levar, afinal você está voando... Você nunca sabe onde tudo aquilo vai dar, mas você continua andando. Tenta pedir ajuda, grita, mas ninguém ouve. Quem ouviria um barbudo se afogando também? É só mais um. Eles sempre se afogam.

Me pergunto sobre isso: Será que algum dia alguém entenderá?

É terrível sentir tanto. São tantas dúvidas, tanto futuro. Espera-se que seja tão simples quanto tomar um caminho. Mas não é.

Todos os dias eu tento lembrar quem sou.

Eu nunca lembro.

Eu nada sou.

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