Ygg



A velha árvore de pensamentos era o lugar preferido de Ygg. Para chegar até ela, o trajeto através da floresta de Mohn era o único caminho. Aliás, arriscado e perigoso para quaisquer viajantes inadvertidos. Sabia-se que muitos dos povos que viviam em Mohn eram descendentes de antigos ladrões.

- "Éramos todos pequenas crianças quando de Lah saímos" - Um dos pensamentos flutuava liquidamente abaixo da copa frondosa da árvore. A voz inundava o pequeno abrigo onde estava Ygg - "Lah era bom: terras verdades e sem muros" - Ygg gostava de ouví-la. Era uma voz forte, que estrondeava e retumbava nas raízes em que estava deitado.

- "Será que ele gosta de mim?" - Uma voz feminina encheu o ar... Ygg curioso levantou suas orelhas marrons e felpudas. Ele às vezes queria que não fossem só vozes, queria ver quem teve aqueles pensamentos - "Acho que vou ignorá-lo, ele mer...".

Os pensamentos eram como animais derretidos que flutuavam constantemente se movendo no ar. Então, uma voz masculina e gentil preencheu uma parte do peito do Ygg, ressoando firmeza: - "Devo estar tão perto de descobrir a pedra da Vida. Co..." e a voz desapareceu. Ygg conhecia as lendas e abriu os olhos ao ouvir "pedra da Vida". A mesma voz voltou instantes depois e disse algo que fez ele se arrepiar: - "Levante-se".

Levantou-se e olhou em volta apressadamente. Procurou se havia alguém lá. Começou a andar para longe da árvore e observá-la. Suas cores brincavam entre si, o azul-esverdeado balançava-se entre as folhas. Ele começou a andar tomando cuidado com cada raiz para não irritá-la. Após um certo tempo, olhando atentamente através das folhas, Ygg vislumbrou um brilho estranho. Rapidamente avançou naquela direção. Subiu o tronco da árvore, agarrou os galhos até chegar ao brilho. Cada vez mais perto, o brilho se tornava fosco. Então se tornou uma fruta vermelha, grande o bastante para encher suas mãos. Era uma fruta macia ao toque, com um odor tão irresistível que a boca de Ygg perfurou a casca doce apenas com o toque de seus lábios. O interior era delicioso, seus sentidos gritaram e clamaram por mais.

Mas logo estava em um navio de madeira rosa que viajava entre as nuvens, o capitão gritava para que ela tomasse cuidado com a queda enquanto os grampeadores da sua mesa de escritório cochichavam em latim sobre como estava quente, mesmo que eles tivessem acabado de alugar uma casa na Lua. O céu se abriu e uma voz disse "Aqui tem pão" enquanto o vendedor de submarinos com creme tocava serpentes beijando deusas pentagramáticas intocadas. Olhou para as mãos que derretiam em areia enquanto o fauno tocava o sino em jazz do batalhão de polícia. Afinal Ruth pensa em pêras que nunca viram o amanhecer no meio da tarde. O peito chove pedras que ante-ontem eram gnaisse. Hoje e amanhã eram abstrações e a fruta voltou à mão de Ygg enquanto a olhava incessantemente. Ele tem vontade de mais uma mordida. Ele larga a fruta e ela desaparece em pleno ar, como nunca houvesse existido.

Então Ygg pensa: "Devo estar tão perto de descobrir a pedra da Vida. Como foi que a árvore ...?". Ele estendeu sua mão e essa atravessou as dimensões do tempo-espaço. Pegou a pedra da Vida e soube enquanto a observava: era um basalto afanítico.

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Me sinto assim na engenharia.

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