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Carta ao passado - 29 A

 Ei. Sei que faz muito tempo que não conversamos.  Eu sei. É minha culpa.  Eu não sabia o que te dizer e de certa forma, me dava desculpas para não te escrever um novo texto. Acho que mudei muito desde que nos falamos pela última vez. Hoje tenho 29 anos, uma dívida bancária imensa acoplada à um apartamento, um emprego estranho em uma área de pesquisa mais estranha ainda.  Ainda continuo tendo medo das profundezas do mar e do escuro em algumas noites quando estou sozinho. Esse sentimento que você tem aí de solidão nunca vai desaparecer. Sei que você pediu algumas vezes pra que te enviassem um sinal, qualquer coisa que te mostrasse que você não está só.  Você está só.  Não tem como fugir, não tem como esquecer e não tem como se arrepender. Principalmente não tem como se arrepender agora. Depois de ter feito tanto pra chegar onde você está. De ter sacrificado tanto. Valeu a pena? Sinceramente não sei. Ainda é cedo pra julgar. Será que algum dia você vai olhar pra trás e dizer que realment

Revisão de texto : Vida

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Em 2009, escrevi meu primeiro texto no Croatt. Numa tentativa de explicar o que eu sentia, traduzir meus sentimentos em palavras. Eu tinha entre 15 e 16 anos na época... Queria colocar meus olhos mais uma vez nesse texto e fazer alguns comentários. O texto começa assim: "Há na vida, vários jeitos de interpretá-la,  Você pode compreendê-la como inacreditável, Tudo sendo inesperadamente inesperado, e você acredita que as coisas acontecem por acaso, que para tudo há uma coincidência, humanamente lógica ou muitas vezes não-lógica, mas felizmente, não acredito em coincidências." Eu vivia uma época de mudanças. Tinha acabado de trocar de escola e novas descobertas aconteciam na minha vida. Cada uma delas era um novo mundo que se abria e um amigo de infância meu, William, havia me dito que ele não acreditava em coincidências. Para tudo existia alguma explicação lógica e sensata. "Você pode compreendê-la como um presente, uma dádiva de alguém que você acredita e/ou aprendeu ser

Carta Pessoal aos Meus 25 Anos

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  Ontem eu completei esse número, tão redondo, tão simbólico, 25 anos. E a sensação que tenho é de estranhamento. Eu sinto uma solidão extremamente confortável, e eu clamo por ela. Eu sei que pareço uma pessoa feliz quando cercada de companhias, mas, neste momento, pelo menos, tudo que eu mais queria era estar sozinha. O conforto que isso me traz é friamente maravilhoso. Outra sensação que tenho sentido, em despertares graduais, é de estar acordando pra vida. Não da mais pra ser uma menininha fútil e dependente dos pais. Já faz um tempo que tenho me despertado pra essa noção. Agora, eu já tenho outras preocupações, como me sustentar e cuidar da minha própria vida. Isso é estranho, porque ninguém nos ensina como ser adulto, ou quando é que chega este momento. Não existe um marco genérico, isso varia em cada vida. Na minha, eu nem sei mais quando me veio essa noção, mas mais do que nunca, talvez pelos meus anseios emocionados poéticos, isso veio mais forte agora, nessa data tão redon

Cansado?

Como começar um texto que nunca deveria ter sido escrito? Sabe, alguns dias eu penso em apagar tudo. Viver com o mínimo possível. Sem toda essa pressão em ter itens, em resolver problemas inexistentes. A vontade humana é algo extremamente mutável e insaciável. Algo que me estranha nessa suposta vida adulta é esse lado tão encadeado e manipulador de algumas interações. Hoje foi um dia extremamente mentalmente cansativo. A batalha por poder que acontece numa discussão é tão promiscua e inútil. *** Escrito dia 7 de dezembro de 2020

Angélus

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Dos poucos momentos que compõem esse eterno tempo presente. Desprendo certezas duvidosas sobre a natureza da existência. Sendo que tão pouco faz sentido. Mesmo depois desse tempo todo. L'Angélus por Jean-François Millet foi finalizada entre 1857 e 1859. Millet supostamente se inspirou em sua avó ao pintar esse quadro. Sempre que ouvia os sinos da igreja anunciando o falecimento de alguém, ela fazia uma prece que se chama Angélus. Durante muitos anos na arte, o cotidiano não era considerado interessante. Millet foi um dos precursores desse movimento. Durante muitos anos na política e (talvez?) até hoje, o cotidiano não é considerado importante.

COVID

Estive pensando o que escrever numa época assim. Não possuo palavras. É uma situação tão nova e única. Acho que antes de tudo preciso me organizar. Organizar esses vídeos todos, todos esses estudos e todas essas notícias. A natureza faz uma ameaça à vida de toda uma espécie. E como essa ameaça é desigual.  As pessoas que acordam todos os dias às 5 horas da manhã pra pegar um ônibus lotado e ir trabalhar até se cansarem e voltarem às 21 horas são as pessoas mais expostas à essa ameaça.  Pessoas que não possuem acesso à internet e precisam ir ao banco para recuperar o dinheiro do auxílio emergencial.  53 milhões de brasileiros acima de 16 anos que vivem fora do sistema.  Acreditar que a liberdade do indivíduo e doações filantrópicas são tudo o que precisamos...  Nessa crise, mesmo famílias que investiram toda as economias em restaurantes, lojas e outras iniciativas se dedicaram tanto pra que isso desse certo. T odas essas pequenas empresas e pequenos negócios precisarão de ajuda fi