Erik, The Red - 2

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Sabe, não eram exatamente dias interessantes aqueles que vivíamos.
Na realidade, os dias interessantes começariam após aqueles dias.

Estávamos nos aproximando da nossa pequena vila, eu e Fábio. Gabriel não morava na nossa vila, nos dividimos algumas encruzilhadas atrás, ele voltou para sua casa ceáldica no topo de montanha Jötunheim - que aliás muito se falava sobre o que ele fazia lá, mas apenas boatos. Talvez um dia virem mitologia. Talvez um dia todo viremos.

Sabe, existem certos momentos em que a ansiedade beira à felicidade. Eu iria revê-la novamente, Cristiane, minha amada, a abraçaria e a beijaria mais uma vez. Poderia sentar-me ao seu lado, e poderíamos conversar sobre as milhares de coisas que existem no mundo, e sobre a loucura que é quando dizem que existem milhares de outras terras para conquistar.

Os magos e os conselheiros dizem sobre coisas estranhas. Dizem que a lua dos céus vai para outro lugar aonde existem mais e mais terras nesse mundo. Mas todos sabem que após o oceano, nada existe senão um abismo. Que tolice pensar algo além, tais sonhadores terão um dia lugar junto aos loucos da Ilha dos Mortos.
Mas, continuando, existem instantes que a apreensão beira à loucura, gostaria de tê-la novamente em meus braços. Olhei para Fábio que andava calado do meu lado, atualmente ele estava mais calado que o normal.
- Fábio, tudo bem, meu caro amigo?
Alguns instantes se passaram andando enquanto ele ainda não havia dito uma palavra. Seus lábios se abriram e pronunciaram uma coisa que a princípio achei estranha, mas depois, resolvi deixar assim.
- Tudo.
Senti seus pensamentos fervilharem, mas nenhuma palavra sendo dita. Perguntei-lhe algo que achei próprio.
- Me desculpe por ter feito aquilo.

Algumas horas antes, enquanto voltávamos pela estrada, um pouco depois que nos separamos de Gabriel, vi sinais de luta no chão, e percebi que seríamos atacados. Virei-me para ele e percebi que ele não havia notado os sinais. Disse-o para que aguardasse um pouco ali, pois precisava mijar. Assim que saí de seu campo de visão, esgueirei-me atrás de uns arbustos mais densos do que os que rodeavam a estrada e desembainhei minhas duas espadas, "Hand R' Chz" e minha espada de ouro.

Fábio, notando que havia sumido, chamou-me com uma voz um pouco menos que um grito pelo meu nome. Soou pelas árvores, e percebi que havia conseguido o que queria.

Três reptilianos médios saíram dos arbustos do lado contrário da estrada em que eu estava e começaram a cercar Fábio. Disseram à ele:
- Jhu ka'z he'r gvfk. - Que significada literalmente "Um porco nojento está sozinho".
- Fu' Ya'self - Fábio disse para eles no idioma reptiliano, porém, para os poucos que entendem o inglês, acho que não precisa de tradução.

Lancei-me para a estrada e cortei transversalmente do ombro direito até a parte esquerda da cintura o primeiro reptiliano à frente com a espada de ouro, do mesmo jeito que se corta manteiga em um delicioso café da manhã. Vi Fábio pular em cima de um reptiliano e começar a estocar em sua cabeça, que agora nada passava de um emaranhado de tripas, olhos, e uma mistura gelatinosa de sangue réptil com linfa cerebral. O último reptiliano, notei que era o mais feio de todos, além de ter a pele grudenta e úmida, ele não tinha pés, no lugar, tinha uma calda nojenta e que se esgueirava por no mínimo 5 metros atrás dele, ela era desajeitada e não parecia ser perigosa, mas proporciona uma rapidez quando ele avançou para mim como uma cobra, rastejando e sibilando. Corri até a árvore mais próxima, dei uns passos em seu tronco e com um impulso para trás, dei uma volta sobre minha própria cabeça e caí enterrando minha espada na cabeça daquela criatura. Percebi como era fácil cortar répteis com aquele espada de ouro. A chamei de Reptilia e com ela, um dia matarei toda a cidade que recebe o mesmo nome. Fábio embainhou "Kharm Ihl A" e nada dissera desde então.

Continuei a andar e ele vociferou.
- A próxima vez que quiser uma isca, vá procurar no prostíbulo.
- Calma, você está vivo, não confia em mim?
- Mas você poderia ter-me contado seu plano.
- Tudo bem, a próxima vez o farei.
Estávamos entrando no povoado e ele continuou vociferando, nossos rostos virados um para o outro por causa da briga.
- Você sempre diz isso e nunca o faz! Eu confio em ti, mas se não confiares em mim também para contar seu plano, de nada serve minha confiança!
- Estamos em casa, veja sua f...
Nesse momento viramos o rosto para o povoado.

Esse não existia. Restavam cinzas e cadáveres espalhados, alguns devorados pela metade, e alguns sendo devorados pelos últimos reptilianos do que parecia ser o ataque aos nossos maiores sonhos, o ataque à nossa vida.

Fábio nunca se recuperou daquele choque, principalmente depois que viu o corpo de sua mulher pela metade, e o de suas crianças destroçadas em pedaços de sangue e memórias despedaçadas. Eu não encontrei Cristiane, e prometi naquele momento, que iria atrás dela até que meu sopro de vida se esvaísse de meu ser, até mesmo no Outro Mundo, eu iria encontrá-la de qualquer jeito.

Nossos sonhos, memórias e vidas destroçados. Eu ainda tinha esperança, mas Fábio, assim como sua vida pareceu perder o sentido aquele dia, eu o vi perder algo que nele admirava: A felicidade. Ele se tornou o melhor guerreiro que jamais terei maior prazer de lutar lado-a-lado, mas nunca mais o vi dar um sorriso. Ou pelo menos, não de felicidade. Seus sorrisos eram normalmente quando estava coberto de sangue reptiliano.

Desembainhamos nossas espadas e matamos os outros reptilianos que ali restavam, acabamos percebendo que faltavam muitos outras pessoa do nosso povoado. Notei rastros de carroças. Os reptilianos provavelmente levaram lanchinhos para a viagem.
Era hora de recuperar a liberdade do nosso povo. Mas antes de partirmos, fizemos um altar de pedras para aqueles que ali morreram naquele dia. Fábio tirou de sua armadura, dois desenhos, que neles estavam os nomes de suas duas filhas - desenhos que foram entregues à ele antes de partir - ajoelhou-se e colocou próximo ao altar.
Sempre foi uma tradição a família dar uma coisa ao guerreiro antes que ele fosse para uma luta, e remexi o pano de minha amada que guardava próximo ao peito, senti seu cheiro, e recuperei as forças, para fazer o que fosse preciso para salvá-la.
Assim que colocou os desenhos no pequeno altar, de alguma forma eles pegaram fogo, como se os deuses sinalizassem algo, e vi os últimos lampejos de alma sumirem naqueles olhos. Fiz uma leve reverência, ele se ergueu e seguimos os rastros da carroça.

Provavelmente estavam à 2 dias de distância. Mas eu e Fábio cobriríamos essa distância perfeitamente bem. Lembrei-me de deixar uma mensagem para Gabriel, caso ele passasse pelo povoado, arrastastamos os corpos de vários reptilianos como uma seta para a direção que seguimos.

Não poderia perdê-la. Não poderia perder o último suspiro de minha alma. Meu último contato com o que me tornava são e humano.
Corri, como se não houvesse amanhã.
Após 1 dia os alcançamos. E então, meu mundo desabou.

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