Erik, The Red - 4

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Ainda que o tempo passe, sempre existirão dois tipos de noites: Noites para homens, e noites para os lobos.
Porém, essa noite fedia à carcaças pútridas de humanos presos em celas pela eternidade.

Estávamos presos. Quando nos aproximamos de onde se reuniam nossos odiosos inimigos reptilianos,
Aqueles malditos estavam nos esperando. Cercaram-nos, e antes que pudéssemos matar o trigésimo quarto deles,
Eles conseguiram atingir Fábio com um dardo venenoso, e quando fui em socorro de meu amigo,
Padeci perante uma forte pancada em minha cabeça.

Ainda dói.

Mas vai doer ainda mais quando eu me libertar daqui.
Vou decepar esses nojentos do solo de onde pisam, comer seus filhos de jantar,
E fazer sopa com seus fígados pestilentos, juntamente com os ossos das mulheres deles.
Sim, estou com raiva.

Fábio acordou não tem muito tempo, mas ele ainda está tentando se lembrar quem é.
Deve passar logo, pelo menos eu vi a felicidade em seu rosto mais uma vez,
Talvez tenha esquecido do passado por esses rápidos instantes.

As celas são feitas de ferro fundido, e as que estão próximas à nossa apenas tem homens mortos,
Ou não é possível ver o que há em seus interior, devido à pouca iluminação das velas.

Parece que a sala toda apenas tem uma janela, as paredes feitas de pedras velhas e cheias de musgo,
A janela é um pedaço mal feito do muro, aonde é possível ver a luz da lua entrar,
E também um pouco de ar fresco.

Acabarei cochilando daqui a pouco, devo guardar minhas energias, para a primeira oportunidade...
...de sair daqui.

--

Sabe, muitos dizem que aquela nova religião que surge, é uma religião para os fracos.
Chama-na de Catolicismo. Realmente, não sei o que Odin pensa dela,
Mas não realmente não importa agora.
O que importa, é que na cela à nossa frente, detectei um movimento e sussurrei um "olá".

- Olá - Meu sussurro foi baixo, mas direcionado.
- Humpft... Quem está aí? - Uma voz soou abafada e cansada, mas a ouvi.
- Muito prazer, sou Erik. Quem é você?
- Sou um demônio. - E esticou a mão para fora da cela, uma mão que portava um símbolo sem sentido.
- Demônios não ficam presos, porque pensa que é um?
- Porque fui amaldiçoado por algo além do natural, algo que descende do mal.
- E o que seria esse algo?
- Sou um comedor de almas.

Me segurei para não rir. É realmente interessante que algumas pessoas realmente acreditem em coisas absurdas como essas.
Não que eu não acredite, na verdade, até aquele dia, não acreditava, mas de qualquer forma,
Parecia um modo de escapar dali.

- Ahhh sim. Que coisa legal. Vamos escapar daqui?
- Escapar? Sou amaldiçoado, permanecerei trancado aqui até meus últimos dias.

Tudo bem, agora parecia não estar fazendo progresso.
Havia lido sobre tribos que se intitulavam dessa maneira para assustar pessoas,
Mas eram coisas... Foi quando ouvi um baque contra a parede atrás de mim.
Me virei, e vi que Fábio havia acordado, e estava batendo o pé na parede, de alguma forma parecia tentar derrubá-la.

- Fábio, não adianta, além de barulho, devemos estar presos, ou no subsolo, ou em uma torre alta.
- Ainda está com sua faca escondida?

Havia esquecido dela, estiquei a mão até o centro do peito,
Dentro da armadura, e lá estava presa minha velha faca,
Próximo ao tecido de minha amada.

- Não entendo...
- Me dê, e observe.

Fábio pegou a faca, e a esticou até onde a luz da lua entrava na cela.
Momentaneamente fiquei cego porque o reflexo foi diretamente no meu olho.
Ele continuou mexendo na faca, até direcionar o reflexo para a cela da frente,
De onde vinha a voz do homem. Meu primeiro pensamento foi de que uma luz como aquela,
Não daria pra ver nada, estava muito escuro.

Mas então ouvi.

Pela primeira vez em minha vida, senti medo.
Um arrepio correu minha espinha, e naquele momento eu ouvi um pesado bafo se esvair da cela à frente.
Um bafo quente e forte, e ao mesmo tempo que parecia querer devorar mil homens.
Um estrondo cortou a masmorra quando o demônio rugiu. Rugiu um instinto tão primário e sanguinário,
Que naquele momento, até mesmo o mais corajoso dos homens, teria recuado e aceitado a morte.

Uma das maiores verdades da vida, é que um dia morreremos. E eu nunca havia aceitado essa verdade até aquele momento.
Meus olhos focaram a escuridão que se remexia, quando as barras foram retorcidas. Fábio continuava a refletir a luz da lua para aquela coisa que se movimentava, como um monstro da noite para nós. Garras passaram através das barras retorcidas de ferro fundido, e foram ao encontro das barras da nossa cela. Era como uma pata de um lobo.

Mas um lobo com sérios problemas genéticos - não me pergunte sobre como sei sobre genética - e principalmente em questão à tamanho. Apenas vi seu braço se esticando,
E senti um suor frio passar pelo corpo, quando vi que os olhos da criatura se focaram em mim.
Olhos vermelhos, parados, frios. Olhos que pediam sangue. Olhos em que a única profundidade possível, é aquela que se perde a sanidade ao tentar imaginá-la. Olhos de um demônio.

Continuei parado em meu lugar, enquanto as barras da nossa cela se retorciam lentamente clamando por socorro em seus gritos calados.

Em sua mão haviam cinco garras, porém pareciam infeccionadas, como se os pelos que ali começavam, deveriam ter nascido de um modo injustificável e sem sentido, pelos esses que se espalhavam por toda pele negra da criatura, porém eram tantos pelos, que não se via que a pele era negra, apenas em alguns pontos aonde não haviam pelos em seu braço em que parecia ser feito de sombras das mais escuras noites.

Quando a criatura inclinava o rosto para frente fora da sua cela, Fábio parou de refletir a luz da lua.

E o que vi, foi aquele braço encolhendo, até a forma de um braço humano. 
E o rosto que saía das sombras da cela,
Era o rosto de um amigo... Um amigo que agora estava presente, 
Porém algo acontecera com ele... 

Era o rosto de Gabriel.

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