História Experimental: "Espero você do outro lado do Universo"


Estava escuro. Não uma novidade quando se está numa nave espacial anos-luz de qualquer estrela. O estranho era que não fazia nenhum barulho na cabine de comando da nave. Ele estava ali alguns instantes antes, havíamos conversado antes de adormecer, eu deitada no compartimento de hibernação e ele pilotando a nave.

Me levantei antes que ele resolvesse me assustar na escuridão. Fui até o painel de controle. Acendi as luzes do painel. Um objeto retangular ocultava algumas letras. O peguei e acendi as luzes da cabine. Era um recado escrito com uma caligrafia com pressa: "Espero você do outro lado do Universo".

Ele havia ido embora. Mas como? Eu não havia escutado nenhuma cápsula de escape ou nenhum tipo de descompressão. Observei então o vidro na minha frente. Ele havia riscado uma seta vermelha em uma parte do vidro e escrito: "acenda as luzes da nave". 

Cliquei um botão no painel, inusitadamente igual ao que usávamos nos carros. A luz se acendeu. Havia uma parede de altura não concebível com uma porta em seu meio, na direção do faixo de luz. Percebi que a nave estava totalmente parada em relação à porta, estávamos pousados em pleno vazio.

Parecia um sonho. Olhei para a porta de descompressão e cliquei o botão do painel que a abria. Ela se abriu, em conjunto com a porta exterior. Nem eu ou nenhuma parte da nave foi sugada para fora. Fui naquela direção, e olhei para baixo. Não havia nada ali, exceto o brilho das estrelas distantes.

Pisei no vazio e encontrei chão. Passei o outro pé para fora e com um frio na barriga fui em direção à porta. Coloquei a mão na maçaneta de madeira, estava quente, aconchegante. Jazz tocava do outro lado.

Apenas uma escolha.

Abri a porta.

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