Noite sem lua de Ruth Mellina

Noite sem lua
de Ruth Mellina;

Para onde vão as coisas que perdemos,
As esquecidas, as que passam despercebidas?

Existe um lugar para o qual elas vão.
Onde o vento não sopra,
E os ponteiros dos relógios não giram mais.
Onde as cores se desbotam em fios envelhecidos pela esperança.

Estará lá, agora, a lua?
Há tempos não olhavam para o céu.
Até que a noite se fez sombria,
E a majestade branca sumido havia.

Quem poderá encontrá-la,
Trazer de volta aquela que faz das noites as mais belas?
Quem resgatará o brilho do céu enquanto há densa numbra?

Adentrem-se no meio das relíquias!
Procurem entre as coisas esquecidas!
Mas lembrem de não esquecer que pode ser facilmente esquecido aquele que em meio ao senescente mundo se achar perdido.

Abriram a porta; e lá estavam todas elas.
Ah! As coisas perdidas ao longo da vida,
As esquecidas, as que passaram despercebidas.

Velhos retratos amarelados, móveis enferrujados,
Painéis de lembranças quase apagadas.
Ah! A velha cadeira de balanço. Seu vai-e-vem era monótono.
Mas nada pelo qual a viagem fizesse valer a pena ir ao resgate.

Mas onde estava a procurada lua?
Atrás dos vasos de porcelana empilhados?
Dentro do baú de cristal?
No velho jardim cujas flores um dia foram coloridas?

Procurem pela sua grandeza!
Chamem por ela!
E que ela se revele a vocês.

Onde não se viu?
Onde não se revirou?
Onde não se buscou?
Onde poderia estar?

Bem lá ao fundo, no canto da sala, atrás da cortina tecida de macias nuvens.
Estava ela, esquecida.
Pobre lua! Seu vigor desvanecera.

Por que estava ali?
Porquê já não olhavam para o céu, para a noite que se estendia no alto.
Há muito olhavam apenas para si mesmos e para as coisas passageiras,
Só a elas davam valor,
Porque pensavam que a lua era eterna e ali ficaria para sempre.


Mas e agora que foi encontrada? voltará para o céu?
Já não mais queria voltar.
Pois era abandonada lá em cima, observando a todos.
Eles amavam e eram amados.
sentiam, viviam.
Ela apenas observava.

Perante tamanha grandeza,
Quem imaginaria o quão triste se encontrava a pobre lua?
Até o brilho nunca fora seu.
Apenas refletia a luz advinda daquele que era uma estrela maior.

Antes viver no mundo dos esquecidos,
Refletir o fosco espectro, esse o verdadeiro,
Do que a luz cujo brilho não partia de dentro.
Dissimulada luz! Por dentro só havia a solidão.

Mas e quanto a noite? O que farão sem a lua?
Agora eles olham para o céu.
Agora que ela se foi, lembraram de seu valor.
Oh lua! Como passaremos sem ti?

Bem... ainda restaram as estrelas.
Pequenas, alegres, cintilantes.
E se algum dia se esquecerem de olhar, também, para elas,
Ao menos elas terão umas as outras.

Pois, sobre todo esse céu, há infinitas estrelas.
Mas a lua, essa sim, sempre houve apenas uma.

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