Desigualdade

Muitas vezes, em nossa vidas, momentos são criados para que possamos aprender um pouco mais sobre o verdadeiro significado da vida.


Hoje no ônibus, quando entrei, observei que estava deveras cheio. Não lotado, mas cheio. Haviam cadeiras vazias no fundo, com pessoas com rostos bonitos e joviais. Mas havia uma cadeira com uma mochila, que quando passei pelo lugar, o homem varredor de rua retirou sua mochila para que eu pudesse me assentar. Observei que haviam outros lugares vagos no ônibus, mas preferi ficar ali.


O cheiro não era muito agradável, além de o portador do cheiro, não ter aparência bonita e jovial como os outros no ônibus. Seu rosto era marcado pelo trabalho do dia todo, seu pescoço era inclinado para frente e alguns dentes de sua boca eram um pouco tortos, fazendo com que sua aparência fosse um pouco louca. Suas roupas estavam sujas e como eram laranjas, dava uma aparência de um homem sujo, mas que na verdade, limpa a sujeira da sociedade. Um homem cuja própria humanidade o olhava com desgosto e preconceito.


Seu jeito de falar era realmente nervoso e apressado, talvez falta de conhecimento, talvez bondade... Nunca saberei.


Após alguns segundos de pequenas palavras, eu disse meu nome e falei que era ateu. Perguntei-o se havia trabalho muito, ele disse que sim além de não ter havido tempo de tirar seu sujo uniforme. Entre alguns instantes de silêncio, eu o perguntei sobre sua religião, ele disse que pertencia à igreja quadrangular.


Perguntei se ele realmente acreditava em deus, e ele falou que acreditava sim. Perguntei à ele o que era o amor de deus, ele disse sem pensar que era o jeito que tratávamos as pessoas, sendo todos iguais. Disse que muitas vezes, as pessoas o olhavam com desgosto, e que sempre que ele olhava para alguém, essa pessoa o voltava um olhar de desgosto, que de certa forma o machucava por dentro. Ele disse que todos nascem com o amor, deus o coloca dentro de cada um, na hora do nascimento, basta escolher se você vai ou não desenvolvê-lo. Ele disse que nenhum ser humano nasce para fazer o mal.


Uma coisa que notei, é que embora as pessoas o olhassem de modo "torto", ele realmente desejava bem à essas pessoas. Ele realmente pagava o mal que o faziam, com o bem. Sua bondade era muito maior que sua ira, talvez ele nem tivesse ira. Ele me disse um pouco sobre sua igreja, e sobre certos "sinais" do Apocalipse, ele mal sabia que desde pequeno fui criado em uma família cristã conservadora e que já sabia tudo e mais do que ele me falava. Fiquei calado por muitos minutos, talvez 3/4 da viagem, pensando em muitas coisas.


Perguntei para ele sobre os assassinos, porque os assassinos matavam os próprios filhos, pais, mães, irmãos. Ele disse que tudo era por causa das amizades e por não obedecer os pais e as mães ou por não ter pai e mãe ou por seus pais e mães não terem ensinado o amor e a dignidade à eles, vi naquele segundo que ele havia tido alguma experiência assim, pois ele olhou para o chão, consultando sua própria memória e não para o alto, criando hipóteses.


Vi a escolha de um ser humano, o prejudicar de certa forma, mas mesmo assim, ele se tornar um bom homem, e não um ladrão.


Vejo que cada dia mais, as pessoas precisam ter consciência de que o anarquismo é bom e que todos nós somos iguais. Todos somos seres humanos.


Entre tantos "cristãos" naquele ônibus que viravam seus rostos ao vê-lo, eu fui o único a sentar ao lado dele e conversar.

Comentários

  1. Fez bem em conversar com ele. Não bem pra ele, mas para você, pois um pouco mais de luz entrou em sua alma.
    O reino dos céus é reservado para os humildes, reservado para esse homem, que é sujo por fora, mas tinha a alma mais limpa do ônibus no momento.

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  2. Todos somos iguais, Deus criou homem e mulher. Todos somos filhos de Deus e parabéns por tratar todos com atenção e respeito.Devemos tratar as pessoas como gostaríamos de ser tratados e isto indepente da roupa que estamos usando ou da aparência.

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