Erik, The Red - 6

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Meus olhos se fecharam. Em seguida se abriram e focaram o teto de madeira. Sentei em minha cama, estava desarrumada, mas tudo estava como deixei. Minha espada estava apoiada na parede, como havia passado as últimas semanas. Não encontrei minha doce amada entre os lençóis. Me levantei e andei até a cozinha enquanto o assoalho rangia sob meu peso. Olhei para todos os lados da cozinha, ainda haviam vasilhas da noite passada, em que comemos carne de caça e fomos para a cama. Gritei por ela.

- Cristiane!

Minha voz retumbou nas paredes da cozinha, mas após alguns instantes de silêncio, percebi que não teria resposta. Olhei para trás quando ouvi um sussurro que veio através do tempo. Quando me virei me vi distante da casa e o sussurro virou um grito, clamando meu nome. Estava na torre mais alta da fortaleza reptiliana e olhei à minha volta. Presa na parede estava uma sombra. E quando peguei uma vela e aproximei de seu rosto, eu a vi.

A sombra sumia e dava lugar às feições de minha doce dama. Os olhos vidrados de loucura e insensatez, de mil terrores que destroem uma vida e a consomem totalmente um ser. O chão estava repleto de sangue que se misturava às pedras e ao musgo. Quando fui tocar seu rosto, uma voz novamente clamou meu nome. "Erik" retumbou em meus ouvidos e trouxe um frio ao meu peito, congelou o meu sangue. Senti meu corpo se resfriar e quando senti que iria morrer, acordei.

- Erik, acorde seu velho asqueroso e vermelho! - Fábio olhava para mim.
- Tive sonhos e pesadelos meu caro amigo. - Desviei meu olhar para a janela e notei que era dia.
- Os sonhos morreram e os pesadelos estão por começar, prepare-se. - Fábio se levantou e apontou minha armadura e minhas espadas encostada na parede. Ele se direcionou para a porta que saía do cômodo que estava, e eu fiquei olhando para o teto.

Esperava encontrá-la sã e salva. Se o meu sonho fosse verdade? E se ela estivesse louca? Será que conseguiria salvá-la? E aquela voz... O que será aquela voz... Temo pela vida de minha amada, e pela minha. Senti o meu corpo novamente aos poucos, melhorando após dias. Foi quando lembrei de uma coisa que havia sonhado... Ou será que foi realidade?

Olhei para minha perna que havia sido cortada, ela estava verde. É, não era um sonho.

- Vejo que acordou rapaz. - Me virei para olhar. E vi um monstro, um reptiliano, minha espada está na parede... Pensei rápido, pulei da cama, rolei para a direita me desviando de um possível ataque do monstro mas ele nada fez, pulei para frente, mas bati fortemente no chão, não estava totalmente móvel a perna verde. - Não precisa me atacar, estou em paz, eu que coloquei essa perna verde em você.

Ali deitado no chão, com o rosto doendo aonde bati no piso duro de madeira, por alguns instantes pensei no que ouvi, olhei para porta aonde o monstro estava e Fábio olhava para mim com um sorriso malandro na cara.

- Quem é você?
- Sou Ph'arux, um reptiliano como pode ver, mas não compartilho da ignorância de minha raça. Essa casa é minha.
- Chegamos aqui e não tínhamos alternativa melhor, sem ofensas, mas vejo quando um homem é de confiança. - Fábio disse.
- Aonde está Gabriel?
- Ele partiu semana passada durante à noite. Já fazem duas semanas que você está se recuperando. Ele deixou uma mensagem, mas está em latim...

Eu li o que estava escrito e era apenas uma frase... Homo homini lupus

- O que ele disse? - Fábio me perguntou.
- O homem é lobo de si.
- Desculpe atrapalhar seu momento de filosofia, mas eu tenho algo a mostrar para vocês. - Ph'arux disse.
- Antes de tudo, obrigado por sua hospitalidade Ph'arux. Se Fábio confia em você, tens minha confiança também.
- Sei quais são os seus objetivos, e apoio vocês nele. Por isso, gostaria que experimentassem minha mais nova invenção. Me acompanhem. Ah, e sim Erik, essa perna é a perna do reptiliano que seu amigo Gabriel estraçalhou, parece que a perna não estava com bom gosto, então ele não a comeu. Mas eu a adaptei e unido às habilidades regenerativas da nossa raça, a perna praticamente fez toda a conexão perfeitamente. É como sua antiga perna, porém você deverá ter alguns efeitos colaterais, talvez seu sangue seja mais gelado que o de costume, mas em questão de tempo você controlará isso bem. Por favor, venham comigo. - Ele se virou e seguiu em direção à um corredor que ainda não conseguia ver.
- Quer ajuda? - Fábio disse.
- Não. - Eu me levantei debilmente, apoiei na minha perna verde e fui sentindo ela através dos nervos do meu corpo. Dobrei ela algumas vezes quando estava em pé e apoiei o peso nela.
- Não tenho o dia todo. - Ph'arux estava gritando do corredor.
- Vamos, melhor ver o que o lagarto tem a nos mostrar.

--

- Então, é isso?
- Sim, é isso.

Estava olhando para um pedaço de metal negro em cima de um pequeno altar.

- Um pedaço de metal?
- E o que ele faz? - Fábio disse.
- Erik, toque nele.

Olhei para Ph'arux, ele fez que sim com a cabeça. Olhei para Fábio, ele não fez nada.
Apenas ficou olhando para o pedaço de metal.

- Tudo bem.

Dei alguns passos mancos para frente e peguei o pedaço de metal. Primeiramente nada aconteceu. Após alguns segundos, nada aconteceu ainda. Olhei para Ph'arux, que agora estava contorcendo o rosto, em expressões variadas que diziam bilhares de coisas diferentes, desde surpresa até terror. Nunca tinha visto um reptiliano tão de perto, a maioria eu havia cortado ou comido a carne, mas notando agora de perto, notei que os olhos dele eram iguais aos nossos.

- Deve ter algo errado.
- Conc... - Foi então que aconteceu.

O pedaço de metal parecendo tomar vida envolveu minha mão e meu braço. O metal foi derretendo e quando pensei que ele estaria terrivelmente quente, ele estava absolutamente frio andando através do meu corpo. Olhei com olhos arregalados para Ph'arux, e ele estava com uma cara paciente de que tudo estava bem. O líquido negro envolveu completamente meu braço direito e começou a envolver meu peito, e se misturar à mim. Parecia de certa forma que aquilo se tornava um comigo. Ele cobriu rapidamente meus dois braços e minha cintura, e envolvia minhas pernas com rapidez. Aquilo começou a subir pelo meu pescoço e quando achei que iria me sufocar, se transformou em um capacete. Quando notei o que era, entendi. Era uma armadura.

Olhei para Fábio, e ele estava com armadura completamente negra, com um capacete que apenas apareciam seus olhos mas dificilmente seriam alvo de uma flecha. Tinha um peitoral enorme e parecia ser rígida, mas após alguns movimentos, notei o quão maleável e dura era a armadura.

Olhei para Ph'arux, e o agradeci silenciosamente. Quando desviei um pouco o olhar, notei que ele pegou um pedaço de metal branco e guardou no bolso de seus farrapos, mas nada comentei sobre aquilo.

Olhei novamente para Fábio.

- Sem ofensas Ph'arux, mas está na hora de fritar uns lagartos.

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