Erik, The Red - 8

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O vento roçou minha barba vermelha. Há muito buscávamos e nada achávamos, nem sequer uma pista.

Sua torre permanecia intacta e os lugares secretos, aonde se escondia, jaziam intocáveis e sujos de poeira quase milenar. Um dos maiores segredos da vida, é que quanto mais se busca desesperadamente por algo, mais foge das suas mãos o que se busca. Quando me dei conta disso, voltamos para o lugar onde havíamos enterrado Gabriel perto de sua antiga casa ceáldica e agora, da vila que aos poucos crescia naquela montanha - Jötunheim, como era chamada - a partir dos destroços da que fora destruída por lagartos. Resolvi esperar.

Muitos meses se passaram, o bastante para que tivesse que cortar minha barba cerca de treze vezes e o bastante para que de pequena vila, crescesse e se tornasse um pequeno povoado. Um desses dias, enquanto tomava banho em um rio, Fábio me disse que queria continuar sozinho, procuraria alguma pista sobre Sólon. Eu disse que se é o que ele queria, que assim fosse. Então nos separamos.

Muitos dias continuaram a passar e uma árvore nasceu no lugar aonde havíamos enterrado nosso amigo. Ela crescia e criava flores, e uma certa época ela perdeu suas folhas, mas logo vinha a primavera e melhorava sua aparência.

Não havia nada. Nada que podia fazer. Esse sentimento varria meu peito e fragmentava minha alma. Às vezes eu parecia vê-la atravessar uma estrada de terra, ou podia vê-la virando uma esquina do pequeno povoado à noite, e isso me perturbava.

Um dia, finquei minha espada "Hand R' Chz" em uma pedra. Conseguia ver o horizonte inteiro de todos os arredores dali, achei que seria um bom momento para deixá-la. Que um dia ela estivesse em melhores mãos.

Uma das noites que estava próximo da "árvore da vida" - como chamei a árvore que nascera aonde Gabriel havia sido sepultado - através de algumas árvores em um nível inferior à colina, um rosto negro me observava entre a mata alta, e as árvores que cresciam em direção ao céu. Desembainhei a minha espada de ouro com entalhes de diamante - "Reptilia" - e comecei a correr naquela direção. Porém, quando dei alguns passos rápidos naquela direção, um macaco saiu entre as árvores e correu para outras árvores que estavam à direita. Parei e me perguntei se estava louco.

Por tantos dias senti sozinho estar em meio às névoas que me cercavam, o meu passado que me feria, e agora minha própria destruição chegava à mim se impondo de modo ameaçador e a sanidade escorria como o sangue escorre de minha espada. Talvez fosse isso que precisava: Luta, sangue e morte. Um vício sem ser alimentado, se tornava um problema, eu precisava alimentar o meu.

Todo dia quando acordava, pouco antes do sol nascer, retirava minha armadura, que voltava à ser pedra, deixava-a junto à minha espada embainhada e minhas roupas mais pesadas. Em seguida ia matar macacos com minha própria força. Caçava e comia sua carne como troféu. Alguns dias pescava peixes no rio vale abaixo e fazia uma sopa. É incrível como Hiperbórea, minha armadura que se convertia em qualquer coisa que desejasse, se tornava uma panela incrivelmente boa. Talvez alguns me queimasse vivo por ter uma armadura infinitamente poderosa e usá-la para fazer sopa, mas na minha concepção as coisas são feitas pra ser usadas em qualquer tipo de utilidade para que sirvam e principalmente, não devemos nos ligar à bens materiais.

São poucos que lutam por ideais nos dias de hoje, e menos ainda os que morrem por um. A morte nunca esteve tão próxima quando a doença chegou, fiquei dias e noites a fio em uma mistura de dor, cansaço e vômitos frequentes. Minhas mãos tremiam e temi nunca mais poder segurar uma espada, nunca mais... ver Cristiane. Me uni à Hiperbórea e senti ela penetrar nas necessidades de meu corpo, lendo-me e se misturando ao meu sangue, senti o ardor de um metal se movendo através das minhas veias chegando ao meu coração e o transformando em metal, passando pelas minhas artérias e transformando em puro metal a minha cabeça por dentro, e de alguma forma, o metal iria penetrar minha alma, mas não aceitei e ele recuou à minha mercê. Senti que eu e Hiperbórea éramos um. E que nunca deixaríamos de ser um sem que minha vida me fosse tomada.

No dia seguinte, Fábio chegou. Trouxe, além de uma comida deliciosa, boas notícias.

Ela havia sido vista. Tínhamos uma pista e eu fiz minha barba pela décima quarta vez. Porém, não sabíamos que aquela era nossa última viagem a um lugar em que nem os deuses se atreviam a ir: Helgardh.

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