Erik, The Red - 9

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Aqueles que muito olham para os céus, ficam cegos ao olhar para a terra.

- Minha doce princesa, está em casa? - Eu disse ao chegar em casa, vinha do campo. Não ouvi resposta, mas continuei a entrar.
- Rainha da minha existência, está na cozinha? - Andei até a cozinha para ver se lá estava ela, porém não estava.

Andei pelos cômodos da casa, e não a encontrei em lugar algum. Quando voltei para a cozinha, vi que a porta que dava para fora da casa estava aberta. Fui até lá e passei pela porta, e a fechei. Olhei ao meu redor, não havia ninguém, porém haviam leves pegadas, leves rastros delicados em direção ao rio. Segui as pegadas com meu coração batendo mais forte a cada segundo.

Era um belo final de tarde, o sol se punha no horizonte e reverberava seus raios por toda a planície. Passava através de algumas árvores e criava luz quase tangível que escoava através da ausência de folhas. Corri através da floresta na direção em que os passos delicados levavam.

Cheguei à um rio que cortava a floresta. Ele vinha através de algumas pedras que filtravam naturalmente a água e fazia uma cachoeira, criando um leito profundo o bastante para que pudesse ficar em pé embaixo d'água com o corpo completamente submerso. Ao redor do rio haviam algumas árvores adaptadas para sustentar a terra leve e macia, além de pedras que nasceram e se moldaram ao curso do rio. Em uma dessas pedras haviam roupas de um tecido fino cuidadosamente dobradas e um lenço de seda que continha um doce perfume que pude sentir de longe. Estava a cinco passos longos do rio, e então ela emergiu. Seus cabelos negros belos e sua silhueta esguia. Seus olhos castanhos e profundos, sua boca com mil desejos, seu toque mais quente que o próprio sol que entrava através das árvores e mergulhava fundo no rio de água cristalina.

- Venha nadar comigo, meu doce cavalheiro. - Cristiane me olhava com um olhar sábio, um olhar único, um olhar capaz de derreter o mais profundo de minha alma, capaz de decidir se eu devia viver ou se eu devia morrer.
- Eu não costumo aceitar convites para nadar em rios desconhecidos com pessoas estranhas.
- Muito menos com ninfas aquáticas que nadam nuas ao entardecer, imagino.
- Leu minha mente.
- Seu chato!
- Pensando bem, uma ninfa não se tem todo dia.
- Você me terá para sempre.

Lágrimas se formaram nos meus olhos, mas segurei e não deixei que rolassem pela minha face e se misturassem aos pelos da minha barba. Apenas dei meus passos calmos e firmes entrando levemente no rio enquanto tirava minha vestes pesada e sujas de suor. Sinto o perfume dela cada vez mais forte, sinto seu poder sobre mim, seus olhos, sua boca. Sinto sua pele acender de desejo, queimar de vontade sem nem mesmo tocá-la. Quando a toco, o pouco céu que aparece acima de nós e os raios de sol que penetram pelo espaço vazio das árvores inflamam e incendeiam tudo ao nosso redor. Seu perfume me envolve assim como os seus braços o fazem delicadamente sutis. Minha pele se desintegra. O mundo queima.

Acordo no meio da noite, era só um sonho.

Hiperbórea me sustenta com o frescor noturno, abrindo algumas frestas na armadura com a movimentação de um pouco de seu ferro. Fábio não acorda, mas continuo acordado pela noite. Me levanto e olho a nossa volta.

A noite continua profunda, em mim principalmente. Não vejo a lua essa noite e as estrelas fazem um manto acima da minha cabeça. Resolvo sair andando me afastando do acampamento, penso que Fábio não sabe que não posso tirar Hiperbórea. Porém em um súbito momento tolo de otimismo, resolvo retirá-la. Coloco minha mão direita sobre o lado esquerdo do meu peito e sinto meu coração bater. Enquanto ele bate, minha armadura volta escorrendo até sua forma original de uma pedra esférica negra. Por algum tempo sinto meu corpo normal, mas após alguns segundos, sinto que estou morrendo por dentro e por fora, cada vez mais fraco e inútil, tento colocar Hiperbórea novamente no meu corpo, mas eu caio no chão, perto de onde antes corria um rio que agora está seco, e não alcanço minha armadura eterna que agora rola para uma distância que parece infinita. Meus olhos se fecham.

Apenas sinto minha vida se esvair de meu corpo. Nunca mais vou ver Cristiane. Nunca mais sentiria suas mãos, sua vida, seu sorriso. Tento alcançar as sementes vermelhas da vida amarradas ao meu cinturão, mas quando coloco uma Euph na boca, não consigo engoli-la, apenas sinto a morte cada vez mais próxima.

A foice da Morte está rasgando levemente minha garganta. Bebendo silenciosamente o líquido que sai: minha alma.

Está tão frio aqui dentro. Que grande tolo eu sou, morrer tirando minha própria vida.

Me desculpe.

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