em mim nasce ambição - 2 minutos de leitura



- Você sempre dizia que seríamos eternos, bastava ficarmos juntos.


Era uma manhã, entre mais uma dessas em que o alvorecer cinzento entra pelos buracos da janela externa. O vidro ainda revela o calor do ambiente com as gotas d'água liquefeitas escorregando por ele. Abri meus olhos, o dia estava nu. Seria um dia direto, cru, reto, objetivo. Sentia que era um dia de coragens.

Existe uma diferença entre o francês e o português, ele dizia, principalmente no que tangia dizer "boa sorte". Em português, essas duas palavras desejam que o seu interlocutor tenha sucesso em sua alçada. Em francês, o termo equivalente seria "bon courage". Talvez perceba que "bon courage" significa na verdade, algo parecido com "boa coragem" - neste momento, com essa tradução literal, os defensores simbolistas enlouquecem. Se você for um pouco além, pode pensar que a sorte conta com a aleatoriedade. Já a coragem, é combustível pro seu próprio esforço.

Nesse dia, precisava de coragem. Preciso de coragem, nesse lugar. Há muito o que explorar, ambientes completamente desconhecidos, sentidos novos e pessoas tão cheias de idiossincrasias. Me dá vontade de parar cada pessoa que vejo na rua e perguntar quem ela é.

Há muito mais sotaques, rostos, corpos, perfumes, cheiros e loucuras. E tantas tribos, quantas tribos avistei nessa noite na Augusta. Não, não é noite. Agora é dia. Minhas memórias vivem a me carregar. Coragem para levantar da cama e ir tomar banho, o alarme tocou pela segunda vez e me levanto. Chuveiro aberto, banho, chuveiro fechado, terno no cabide, calça social, sapato estragou - tenho que comprar outro - pão, queijo, peito de peru, chaves, mochila, porta do apartamento, elevador, porta da rua, rua.

Essa calçada é realmente linda. As pedras são encaixadas à mão, consigo notar esse detalhe nessa rua.

Beco sujo, escadas, casal trocando carícias, avenida. Prédio de vidro azul com estrutura de aço por fora. Pedras mal encaixadas, avenida suja. Prédio organizado, pego meu crachá, entro. Desço o elevador, atravesso os túneis até o prédio onde trabalho.

Café no ar, conversas sobre problemas, sobre amores e negócios, telefonemas para os filhos que ficaram em casa, notebooks fazendo "tic tic tic" nas mesas externas. Sopra um vento leve, trazendo algumas centenas de perfumes, shampoos e cremes de pentear.

Me sinto bem.

Me sinto ambicioso.

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