História Experimental: amamos bem demais - #2/5 - 2min de leitura


As pessoas dessa cidade devem me achar idiota. Ando olhando pra cima.

Me pergunto como elas não notam a imensidão desses prédios, como eles revelam nossa pequenez e grandiosidade. Fomos capazes de erguê-los, de torná-los monumentos do nosso progresso e civilização. Ainda sim, quando olhamos para o chão e para próximo à eles, vemos pessoas em grande necessidade, dormindo nas ruas e passando fome.

É quase como se a existência desses prédios fosse uma ironia. O chão se tornou um lugar tão perigoso, que a única solução que encontramos é distanciar quem precisa de ajuda de quem esbanja e desperdiça seus próprios bens.

É estranho vivenciar uma cidade assim. Quando saí do metrô Liberdade, o mundo girava, 360º de pessoas passando, correndo, andando e fazendo milhares de coisas. Será que São Paulo realmente nunca pára? Enquanto houver alguém pra gastar o próprio dinheiro, terá alguém pra fornecer um serviço "necessário"?

Andei pelas ruas, as luzes da rua são postes ao estilo tradicional japonês, existe até mesmo um Torii na rua principal do bairro. É uma pena pois é um monumento que simboliza à entrada ou proximidade de um santuário, sendo que nessa mesma rua apenas existem lojas eletrônicas e shoppings de produtos importados.

Esses são os santuários adorados de hoje? Passeava pelas lojas, e haviam tantos budas, shivas, ganesh, cruzes, jesuses. Tornamos nossa cultura e espiritualidade em produtos. Produtos reproduzidos, vendidos e traficados. Quão sagrado restou dentro de todas essas relações capitalistas?

Aliás, existe algo ainda sagrado?
Algo belo?
Algo realmente especial?
Sabe, eu não sou completamente um desses simbolistas, mas não era pra existir algo?

Saio do bairro Liberdade de volta ao metrô. Quem sou para tentar julgar quaisquer pessoas, não sou melhor que ninguém. Existamos enfim. Retornemos à nossa rotina. Não é isso que ela sempre dizia? Como amava rotinas.

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